Notas de algumas leituras, sem pretensões de crítica literária.

Seleção de alguns poemas, com ou sem comentários.


terça-feira, 9 de setembro de 2014

O FARAÓ, de Boleslaw Prus



Este livro, escrito em 1895, relata o fim do reinado do faraó Ramsés XII e o breve reinado de seu filho Ramsés XIII (séc. XI b.C.). Ora ambos são personagens ficcionais (a 20.ª dinastia acaba com Ramsés XI), tais faraós não existiram. Deduz-se, portanto, que o autor não pretendeu escrever um romance histórico. No entanto todo o texto revela um conhecimento profundo da vida do Egipto e da forma como essa sociedade se organizava. Há belas descrições dos espaços e de diversas situações pragmáticas do dia a dia deste povo.
Retrata uma sociedade em que os nobres e o clero usufruem de grandes privilégios e de grande riqueza, enquanto o povo vive escravizado e na miséria.
O ponto de partida é a ideia de que o novo faraó pretende suavizar a vida do seu povo. Para isso precisa de dinheiro, visto que o tesouro do país está delapidado, mas os sacerdotes dos vários deuses e os templos nadam em ouro. Gera-se um confronto entre o faraó e o sumo sacerdote pelo controlo do poder.
Os sacerdotes são muito mais sábios do que o jovem faraó, que apesar de se notabilizar na guerra, não é capaz de perceber a gestão do país e as razões de estado.
Os sacerdotes vão-lhe dando a ilusão de que manda. Apesar de este ser suficientemente arguto para descobrir muitos dos segredos do clero e se aperceber de que nem sempre consegue compreender as várias vertentes dos problemas com que é confrontado, a verdade é que vai sendo subtilmente enganado, mesmo por muitos daqueles em que tinha depositado a sua confiança.
O povo é descrito como um cata-vento, facilmente influenciável por agitadores de ambos os lados, mas os sacerdotes conseguem dominá-lo através de milagres, que não são mais do que a aplicação do conhecimento científico que detêm, quer a nível da química, quer da astrologia, v.g., a previsão de um eclipse do sol permite-lhes transformar uma situação aparentemente desesperada num vitória retumbante.

Apesar de muito extenso (533 pp., nesta edição), é de fácil leitura.
O autor (1845-1912), de acordo com uma nota no final do livro, pretendeu criar um paralelismo com a situação na Polónia no séc. XIX, esmagada pelo jugo dos czares.

PRUS, Boleslaw. LE PHARAON. Marabout, 1959

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