Notas de algumas leituras, sem pretensões de crítica literária.

Seleção de alguns poemas, com ou sem comentários.


sábado, 2 de outubro de 2010

SENTIDO SEXTO

Encontrei hoje um livrinho de poemas de um autor praticamente desconhecido e que, depois de breve pesquisa, percebo que já não faz parte de este mundo.
Gostei especialmente destes.

CAPTAÇÕES DA VERDADE

“Onde habitasse o desespero alheio,
deveria ter construído a minha casa!
- Onde habitasse um pássaro sem asas
pedindo uma árvore ou um veleiro ou
pedindo simplesmente
a mão do vento que sob o seu corpo
- a afogar-se de mágoa -,
transformasse em Espaço
o seu canto em mágoas prisioneiro!”

A UM NATAL ANTIGO

Neste Natal, já caído o pó de meio século
foi bom ouvir de novo a tua voz!
- O tempo é sempre ontem, pouco mais.
E os telefonemas, hoje, são tão nítidos
que unem ainda mais os meus ouvidos
- e a minha face –

àquele ano         antigo
de mil novecentos
e cinquenta e cinco…

SENTIDO SEXTO

Um Deus que me complete! – inspiro e penso –.
Um Deus que me levante do meu barro
terreno, sobre as asas para os astros
e que sobre as águas me transporte solto

como um barco visceral rumo ao tesouro
que se esconde ni sangue do meu corpo.
- Um Deus em mim procuro                e desamarro
tudo o que é perto e longe                   e alto e fundo,

tudo o que busco encontro                  e o que suspeito
pelos cinco sentidos com que sou um corpo…
E rangendo (o que penso) sob o peso do Tempo,

dentro do corpo – oculto ou liquefeito –
do desejo me nasce um sentido sexto!
- Sem palavras completo                   o que em palavras penso.

João Orlando Travanca-Rêgo, Sentido Sexto