Notas de algumas leituras, sem pretensões de crítica literária.

Seleção de alguns poemas, com ou sem comentários.


domingo, 15 de novembro de 2015

ALFREDA, OU A QUIMERA, Vasco Graça Moura

Nada melhor do que as palavras do autor para definir esta história:

«Alfreda, ou a Quimera tem a sua origem num conto que o semanário Expresso me encomendou para publicar no Verão de 2007. Uma vez escrita essa vintena de páginas, apercebi-me de que a história era susceptível de vários desenvolvimentos e foi isso o que tentei fazer no mês de Agosto do mesmo ano.
A síntese é fácil de fazer: um coleccionador particular de livros antigos deixa-se fascinar por uma mulher com quem esteve apenas duas vezes e que acaba por se tornar uma obsessão para ele. No ramerrame da sua existência, que corre sem grandes preocupações materiais, é este leitmotiv que vai conduzindo, ostensiva ou implicitamente, a narrativa para o seu desfecho.
Ao longo do romance, vários textos de circunstância, alguns inéditos, outros obscuramente publicados, ou então curtos fragmentos deles, foram sendo incorporados na trama narrativa, por, em meu entender fazer sentido cerzi-los em determinadas passagens e eles contribuírem para caracterizar melhor personagens, ambientes e situações. Na verdade, um romance é o culminar de muitas reflexões e muitas experiências da vida e da escrita. Que várias delas tenham começado por ter expressão avulsa não as impede de figurarem no lugar em que podem ganhar mais força e dar mais vitalidade ao todo. O problema é exclusivamente do autor e o risco também.
Dei a alguns capítulos, embora não a todos, o título de obras conhecidas, procurando com isso reforçar, de algum modo, a ligação e a óptica do narrador ao universo dos livros. Recorri à tradução das Metamorfoses, de Ovídio, de Paulo Farmhouse Alberto, e da llíada, de Homero, de Frederico Lourenço, para duas breves citações destas obras que são feitas no texto. Pus na boca de Pips, aliás William Brompton-St. James, algumas linhas de Shakespeare e de T. S. Eliot, entre outros autores de língua inglesa. E desejaria que o Porto, não um Porto propriamente «realista», mas um Porto quase tumultuariamente imaginado num tropel em que se sobrepõem referências objectivas e reminiscências afectivas, fosse tomado como uma das personagens desta história.

Benfica do Ribatejo, 31 de Dezembro de 2007.»

Para além do que VGM sintetiza na nota acima, seduziu-me a grande quantidade de referências à bibliofilia e os métodos utilizados para encontrar livros antigos e valiosos.
O livro, ainda que tenha algumas referência cultas, é de fácil e gratificante leitura.

MOURA, Vasco Graça. Alfreda, ou a Quimera. Círculo de Leitores, 2009. 2.ª ed.

quarta-feira, 11 de novembro de 2015

O LOBO BRANCO, Branquinho da Fonseca




Este conto foi extraído da obra “Caminhos Magnéticos” [1938].

Transcreve-se da introdução informação sobre o autor:

BRANQUINHO DA FONSECA

«Nasceu Branquinho da Fonseca, em Mortágua, a 4 de Maio de 1905. Faz parte dos seus estudos em Lisboa mas é em Coimbra que as actividades literárias começam a fazer rasto atrás do seu nome. Aí funda PRESENÇA que dirige juntamente com JOSÉ RÉGIO e JOAO GASPAR SIMÕES. Só mais tarde, com a sua saída, aparece CASAIS MONTEIRO no corpo directivo da Revista. Foi sem dúvida o movimento «Presencista» um dos movimentos mais importantes da vida literária portuguesa. Um bafo de renovação das nossas letras numa altura. em que a decrepitude era manifesta.
Licenciado em direito, exerce Branquinho da Fonseca funções burocráticas em diversas terras da. província. Este calcurriar deixa marca profunda na sua obra. Afirmamos isto ao pensar no romance MAR SANTO. O escritor viveu alguns anos na Nazaré.
Onde a obra de Branquinho da. Fonseca ganha projecção é sobretudo na história curta.
O BARAO e todos os outros contos de RIO TURVO ficarão como dos mais belos contos de toda a literatura portuguesa.»

Como se afirma acima, Branquinho da Fonseca é um exímio contista.
Este conto retrata um ambiente rural e a sua ingenuidade, relações simples e prazenteiras, mesmo entre patrões e empregados, até que surge a superstição. Aí, tudo muda, o protagonista que era respeitado e o ai-jesus de toda a gente, passa a ser evitado como se tivesse lepra, apenas por ter avistado um lobo branco a que o povo confere atributos demoníacos.
Leitura de recreação, suportada na religiosidade e na crendice exacerbada. Assim como em algumas cenas de caça e petiscos, como uma tiburnada no lagar de azeite. Ótimo para recordar tradições de meados do século passado.

 FONSECA, Branquinho da. O Lobo Branco. Fomento de Publicações, Ld.ª, S/d [D.L. 1955]

sexta-feira, 2 de outubro de 2015

A SEDE DA PALAVRA, de Cândido José (Tavares da Silva Baptista) de Campos

Este não comento, nem a razão por que o escolhi.





MANIFESTO


Nada tenho de novo que vos diga
Pois tudo foi já dito antes de mim
Resta-me dizer não em vez de sim
Quando surgir um sim que se desdiga.


in A Sede da Palavra, Cândido José de Campos. Ed. de Autor, 1982
Autografo. Lisboa 1982

Outras obras do autor:
Não quero os trinta dinheiros, 1980
D. Quixote vem a pés, 1981
Preciso de linho novo, 1982 

quarta-feira, 2 de setembro de 2015

ESTRELA DISTANTE, Roberto Bolaño



É-me difícil elogiar este livro, ainda que lhe econheça valor.
Primeiro, vamos à sinopse e à nótula biográfica incluídas nas badanas:

«O narrador viu pela primeira vez aquele homem. em 1971, ou 1972, quando Allende era ainda presidente do Chile. Então, fazia-se chamar Ruiz-Tagle e deslizava com a distância e a cautela de um gato pelos ateliers literários da Universidade de Concepción. Escrevia poemas também distantes e cautelosos, seduzia as mulheres, despertava nos homens uma indefinível desconfiança. Voltou a vê-lo depois do Golpe, época em que até os poetas jovens de dezoito anos, como ele, se viram de repente, mergulhados numa repentina e sangrenta maturidade. Mas nessa ocasião, o narrador - que conta a história desde o limite entre o fascínio e a necessidade de saber, ou de fazer saber -, ainda ignorava que aquele aviador, Wieder, militar de carreira que escrevia com fumo versículos da Bíblia com um avião da Segunda Guerra Mundial, e Ruiz-Tagle, o péssimo aprendiz de poeta, eram uma e a mesma pessoa. Versículos que os prisioneiros nos estádios liam, e que já não leriam as irmãs Garmendia, duas das poetas que ele tinha seduzido e feito desaparecer.
E assim, num percurso pelas muitas bifurcações dos caminhos da história, das mitologias e das literaturas da nossa época, é-nos contada a fábula nada exemplar de um impostor (mas não somos todos impostores, nalgum momento das nossas vidas?), de um homem de muitos nomes, sem outra moral a não ser a estética (mas não é esta a aspiração de qualquer artista?), dandy do horror, assassino e fotógrafo do medo, artista bárbaro que levava as suas criações até às últimas e letais consequências.»

«Roberto Bolaño

(1953-2003), nascido no Chile, narrador e poeta, impôs-se como um dos escritores latino-americanos do nosso tempo.
Publicou, entre outros, os ensaios recolhidos em Entre Paréntises, os livros de contos Llamadas telefónicas (Prémio Municipal de Santiago do Chile), Putas asesinas e El gaucho insufrible, e os romances Estrella distante, Amberes, Los detectives selvajes (Prémio Herralde de Novela e Prémio Rómulo Gallegos, ambos por unanimidade) e o monumental 2666

Agora, resta-me dizer que o livro está pejado de referências culturais, principalmente a autores e livros chilenos que, devido à minha ignorância, se tornam ininteligíveis.
Acabo citando uma frase da p. 150.:
«Lia mas as palavras passavam como escaravelhos incompreensíveis, atarefados num mundo enigmático.»

BOLAÑO, Roberto. Estrela distante. Teorema, 2009

terça-feira, 25 de agosto de 2015

O LADRÃO DE SOMBRAS, Marc Levy


O livro apresenta a epígrafe: «Há pessoas que não abraçam senão sombras; essas têm somente a sombra da felicidade.» (“Some people kiss shadows. They only feel the shadow of joy.” – Mercador de Veneza), remetendo, entre outras, para a ideia de que as relações baseadas em fingimento estão condenadas ao insucesso, só a autenticidade poderá trazer aos intervenientes verdadeira alegria.

Romance de fácil leitura, muito apelativo que retrata cerca de 10 anos na vida de um rapaz especial: a sua sombra mistura-se ou troca com a de outras pessoas e, nesse processo, ele fica a saber factos importantes da vida da pessoa em causa, que ele usa sempre com a melhor das intenções, procurando tornar melhor a vida de todos aqueles com que se cruza.
A história começa a seguir a uma mudança de escola, onde tem de enfrentar o assédio, ainda que mitigado, de um colega mais corpulento. Depois surge a separação dos pais, da qual ele se sente erradamente responsável. Descreve também a maravilhosa relação que mantém com a mãe. Mostra como a percepção deste seu dom pode ser útil a toda a comunidade. E ainda entre outros temas menos relevantes o surgimento do amor e, aparentemente, como uma paixão juvenil consegue permanecer até à idade adulta, terminando o romance com um fim aberto, mas em que se vislumbra uma vida feliz para este rapaz que entretanto se tornou médico.

Transcreve-se a sinopse exarada na contracapa:

«No seu novo romance, Marc Levy conta a história de um rapazinho com um dom invulgar: ele consegue «roubar» as sombras das pessoas com quem se cruza. Ao princípio, acontece-lhe involuntariamente e isso chega a assustá-lo. Sempre que se cruza com alguém - seja um amigo, um inimigo ou um perfeito desconhecido -, a sombra da outra pessoa passa a segui-lo. Por vezes contra a vontade do rapaz, as sombras contam-lhe os mais profundos desejos, temores e aspirações das pessoas a quem pertencem. E o rapaz vê-se em mãos com um dom que traz uma grande responsabilidade: ao saber estes segredos, terá de ajudar as pessoas - ajudá-las a recuperar «essa pequena luz que lhes iluminará a vida». Durante umas férias de verão à beira-mar, apaixona-se por uma rapariga muda, chamada Cléa, com quem comunica através da sua sombra.
E a sombra deste primeiro amor acompanhá-lo-á durante anos... Mais tarde, o nosso «ladrão de sombras» torna-se estudante de Medicina, e debate-se com a questão de usar ou não o seu dom para ajudar a curar - tanto os seus pacientes como os seus amigos. Afinal, será ele verdadeiramente capaz de adivinhar o que poderá fazer felizes aqueles que o rodeiam? E ele próprio, saberá onde o espera a felicidade?
Um romance terno e divertido sobre os silêncios que assombram todos os nossos amores.»

LEVY, Marc. O ladrão de sombras. Bertrand, 2013.

sábado, 1 de agosto de 2015

QUE IMPORTA A FÚRIA DO MAR, Ana Margarida de Carvalho


            Primeiro romance da autora, filha do extraordinário escritor Mário de Carvalho, e que, de acordo com a informação incluída na badana, é licenciada em Direito, jornalista premiada, crítica cinematográfica, cronista e dramaturga.
            Este livro apresenta um número reduzido de personagens. Apenas o suficiente para a economia da narrativa, sendo que há duas personagens principais, cuja história, inicialmente, é apresentada de forma alternada: a de Joaquim, sobrevivente do campo de detenção do Tarrafal, e a de Eugénia, jornalista que quer contar a história de vida do primeiro. Posteriormente, as duas histórias fundem-se na narração de Eugénia que, na busca para compreender Joaquim se transfigura, encarnando mesmo em determinados momentos a idealização da amada de Joaquim, Luísa.
            Apresenta um estilo muito interessante, algumas vezes muito perto da poesia, principalmente nos capítulos introdutórios em que a história é vista numa perspectiva rasteira, perto do chão, onde jaz o maço de cartas de amor que Joaquim escrevera à sua amada, e que atirara pela janela do comboio, na viagem que o haveria de levar à deportação.
            A autora revela grande erudição nas múltiplas citações de cultura, abrindo a sua obra à intertextualidade. Reconhecem-se facilmente citações de Camões, Fernando Pessoa, Mário Sá Carneiro…, algumas identificadas, outras não. A nível da utilização da linguagem rebela-se contra o uso de lugares-comuns, do «cliché», no entanto reconhece-lhe o valor no estabelecimento de uma relação de empatia com o leitor, portanto não o irradica por completo do seu discurso, consciente da sua utilidade. Por outro lado, defende a verosimilhança e, no entanto, quanto a mim, é dificilmente crível, não a história de Joaquim, mas sim que da relação que estabelece com esse homem doente, algo demente, pudesse ser inferido aquilo que fica relatado.
            Ainda assim a história é extraordinária e muito bem contada, sendo que os indícios que foram sendo introduzidos ao longo das duas histórias, vêm a verificar-se. A surpresa pelo fim é apenas aparente pois, muito atrás, ficou implicito que ao mensageiro do amor se paga com amor.
            O título parece indicar que a história de Eugénia é mais importante do que a de Joaquim. O mar que marcou a sua infância em casa dos tios, um tio e duas tias, não é o mesmo que leva Joaquim ao Tarrafal.

Transcreve-se da contra-capa:
“Numa madrugada de 1934, um maço de cartas é lançado de um comboio em andamento por um homem que deixou uma história de amor interrompida e leva uma estilha cravada no coração. Na carruagem, além de Joaquim, viajam os revoltosos do golpe da Marinha Grande, feitos prisioneiros pela Polícia de Salazar, que cumprem a primeira etapa de uma viagem com destino a Cabo Verde, onde inaugurarão o campo de concentração do Tarrafal.
Dessas cartas e da mulher a quem se dirigiam ouvirá falar muitos anos mais tarde Eugénia, a jornalista encarregada de entrevistar um dos últimos sobreviventes desse inferno africano e cuja vida, depois do primeiro encontro com Joaquim, nunca mais será a mesma. Separados pelo tempo, pelo espaço, pelos continentes, pela malária e pelo arame farpado, os destinos de Joaquim e Eugénia tocar-se-ão, apesar de tudo, no pêlo de um gato sem nome que ambos afagam e na estranha cumplicidade com que partilham memórias insólitas, infâncias sombrias e amores decididamente impossíveis.”

Este romance foi finalista do Prémio Leya em 2012 e ganhou em 2014 o Grande Prémio de Romance e Novela APE.

CARVALHO, Ana Margararida de. Que importa a fúria do mar. Teorema, 2013.

domingo, 17 de maio de 2015

Poemas de amor e não, Sérgio Paulo Silva (1950)



POEMA DE SEMPRE

Escreverei o meu amor a giz para iluminar as paredes solitárias.
Egito Gonçalves

Escreverei uma jarra bordada de flores e insectos
Para iluminar as horas mais nuas
Os vidros Os metais Escreverei uma anémona
Para iluminar os versos mais gelados
Um nome Uma esperança
Escreverei o meu amor a giz
Para iluminar as paredes solitárias


POEMA FRUGAL

As horas
quebram-se
nas veias
e enchem
de estilhaços
o coração.

Da contracapa: «Sérgio Paulo das Neves Rodrigues da Silva dá testemunho, em Poemas de Amor e Não, de propostas tensas dum canto intranquilo e ácido, que desfibra a selva em que habitamos, disfarçados e sombrios…
Poesia estranhamente exacta e distante, ela reflecte um pensar que se vai modelando e lança mão de operações onde um lirismo contundente e uma angústia impetuosa esbatem as barragens desencantadas de um convencionalismo e dum parentalismo pátrio.»
José de Matos-Cruz

SILVA, Sérgio Paulo das Neves Rodrigues da. POEMAS DE AMOR E NÃO. Livros sem editor, n.º 2. 1971

quinta-feira, 16 de abril de 2015

O OURO DOS CORCUNDAS. Paulo Moreiras





Mais uma vez, tal como no romance A demanda de D. Fuas Bragatela, o autor elege como protagonista da sua história um homem humilde, empurrado pelo destino para a delinquência e a malandragem, muito na tradição do pícaro.
Aqui a personagem principal, Vicente Maria, na tentativa de se libertar das peias que o forçam ao roubo e a outros estratagemas de sobrevivência, bate a todas as portas, procurando uma oportunidade de viver dentro do enquadramento legal, para endireitar a sua vida. Porém, pela influência de um homem poderoso, despeitado e invejoso do seu sucesso amoroso, todas as vias se lhe fecham.
Sem saída para este problema, conluia-se com um grupo de assaltantes para roubarem uns fidalgos. Por sorte ou azar roubam uma outra carruagem que transporta ouro do rei D. Miguel, romanescamente destinado a fazer pender a guerra que mantém com seu irmão D. Pedro a seu favor. Isto era demais para estes pequenos delinquentes. Os soldados, com marcas de crueldade, seguem as pistas e depressa localizam os responsáveis e matam todos menos Vicente Maria, que vem a ser preso posteriormente. Graças à sua esperteza é levado à presença do rei e convence-o a dar-lhe a liberdade em troca da localização do ouro.
Recuperado o ouro, Vicente Maria é solto e é-lhe dado um prazo breve para sair do país.
Virá a consegui-lo com a ajuda de um amigo, não sem antes ter de enfrentar em grande desvantagem o seu poderoso inimigo que acaba por ser morto pela amada de Vicente, violada pelo mesmo na juventude.
Neste universo romanesco, pejado de uma linguagem arcaizante, somos levados a pensar que este homem insignificante poderá ter mudado a História de Portugal.

MOREIRAS, Paulo. O ouro dos corcundas. Casa das Letras, 2011.

terça-feira, 7 de abril de 2015

O OSSO DA BORBOLETA, Rui Cardoso Martins



História de um homem que se esconde da polícia no sótão de uma casa na Figueira da Foz. Esta casa, aliás como outros espaços mencionados, é facilmente identificável.
A história do narrador está relacionada com outras personagens, das quais vamos sabendo o seu percurso existencial. É através destas que vamos sabendo a sua história, nomeadamente através de uma vizinha que se vem a revelar a personagem mais importante do romance. Há ainda, lateralmente, a história de um casal de jovens judeus refugiados que tinham habitado aquele mesmo sótão, onde agora se encontra o auto-suficiente narrador.
Borboleta / D. Purificação, que fora uma bela mulher e ajudara a cativar turistas e veraneantes para o jogo, depois de ter tido um grande dissabor com a perda do seu amor espanhol, que lhe deixou uma filha para criar, vem a revelar-se dura, daí o título emprestado de um verso de um poeta brasileiro, como homem que provavelmente foi responsável por ela ter sido abandonada. Este homem é corrupto e lascivo e tenta agora recuperar algum do dinheiro sujo que investiu, ironicamente, no homem que é amante da filha de Borboleta, revelando-se uma espécie de circularidade da história de mãe e filha.
Nas descrições de lugares e de personagens abundam alfinetadas ao carácter de gruposn sociais e mesmo de algumas pessoas quase que identificadas e a factos ocorridos na Figueira da Foz ao longo de várias gerações.
O autor escreve de forma sóbria e eficaz e o conhecimento da vida na Figueira da Foz veio certamente da sua permanência nesta cidade, durante o tempo em que foi casado com a jornalista, tradutora e escritora, Tereza Coelho, que infelizmente já nos deixou.
Mesmo que não nos interessemos pela Figueira da Foz, vale a pena ler!

MARTINS, Rui Cardoso. O osso da borboleta. Tinta da China, 2014.

quarta-feira, 1 de abril de 2015

ÀS CAVALITAS DO TEMPO, Eduardo Olímpio



Nunca tinha ouvido falar deste autor, mas, reconheço, é
interessante. Encontrei este pequeno livro, publicado um mês após o 25 de Abril, com mini-crónicas. A linguagem é algo surrealista. Retrata em muitos dos textos a vivência de gente do campo, essencialmente do Alentejo, deslocada para a cidade de Lisboa. Nas suas crónicas enfatiza o ridículo de várias situações com um humor muito interessante.

Com a devida vénia ao autor, e apenas com o fim de promover a leitura, transcrevo um dos textos que muito me tocou:

love story a preto e branco

«ia um tempo danado. o odre do céu despejava chuva há mais de duas semanas e os homens bis cavam os dias na venda da chancuda, à saída da aldeia, de quem vai para beja.
nem o nome valia à terra, já que santa vitória era um ensopado de fome. braços caídos, enxadas enxutas de chão, forno frio, lareira sem tanganhos, aquele era um inverno de morte. papas de milho, migas e polme tudo ia fugindo, casa a casa, até ao fundo da aldeia.
o chico ferrador foi encontrado morto pelo frio, na enxerga de vimes. tinha setenta anos e ferrara mais parelhas de mulas que cabelos tinha na cabeça. sempre na forja, sempre a lidar com o fogo, morreu ali, enrolado no frio daquele janeiro de má sina.
foi então que a joana calapez, com o tempo incompleto, se lembrou de parir: só ossos e aquela barriga do tamanho duma bolota ninguém jogava um valete pela cria. – e sabem o que veio? dois: dois gaiatos com dois quilos cada um, redondos, pequeninos, uns repolhos de carne. e lindos! ou lindos talvez não mas engraçados, porreiros.
joana calapez ficou nem viva nem morta, estiraçada na cama. a arca vazia. o homem a olhar a chuva, fumando cigarros feitos das barbas do milho. ele estava assim à porta, a fumar, quando viu os ciganos chegarem e atarem os burros ao sobreiro grande. depois começaram a armar as tendas mais rotas que remendadas: eram uns doze ou treze, mas as mais eram as mulheres. sujos, encharcados, falavam aquela espanholada que só eles entendem.
dai a nada veio a cigana alta com um gaiato de dias pendurado ao peito. a mamar. - pelas alminhas de quem tem no céu e as criaturas que mais quer não me dava uma colherinha de açúcar para ver se calo três criaturinhas de deus que ali tenho para criar?
- o homem foi lá ao fundo da casa e rebuscou na arca: o cartucho estava mirrado mas ainda se raspavam bem duas colheres. a mulher, do escuro do quarto perguntou: está ai alguém? e os recém-nascidos acordaram a berrar do sono da fome. - valha-me santa aparecida mais nossa senhora de guadalupe que estes anjinhos não têm mama, benzeu-se a cigana. e puxou do outro peito, peito longo, largo, cheio, adonde o leite corria como seiva dum pinheiro. mamada a um, mamada ao outro. depois ao filho. de novo a um, de novo ao outro. e ao filho. e voltou à noite. e de manhã. muitas noites. muitos dias. «meus ricos anjinhos! benzia-se».
numa madrugada a árvore não tinha burros. nem tendas. nem ciganos.
- numa alcofa, à porta da casa, corados e reboludos brincavam os filhos de joana calapez.»

OLÍMPIO, Eduardo. Às Cavalitas do Tempo. Prelo, 1974.

domingo, 1 de março de 2015

HALO DO EQUINÓCIO, Santiago Prezado



João Maria Sant’Iago-Prezado (1883-1971)

Poeta figueirense, republicano e democrata, contemporâneo de Teixeira de Pascoaes, João Lúcio, Augusto Gil, João de Barros, Afonso Duarte… editou o seu 1.º livro, Primeiros Versos, em 1902, e Halo do Equinócio (Ilustrado por Figueiredo Sobral), que é o seu último, em 1959.
Colaborou nas revistas Atlântida, Águia e Seara Nova.
A Câmara Municipal da Figueira da Foz, no centenário do seu nascimento, editou Antologia de Circunstância que ficara inédita.

Outras obras:
Doze canções d'amor d'o livro do amor e da natureza, 1914
Entre a folhagem, 1924
Livrinho memorial, 1925
Auto dos Pastores Brutos, 1926
Avto da pastora perdida e da velha gaiteira, 1944
Joaninha dos olhos verdes, 1946
Hespéride, 1946
Pelo verde pinheiral florido : ai flores, ai flores do verde pyno, 1948
D'a roda dos meses d'A horta do mestre gil e mais, 1951
Removendo os cadáveres : impressão de outono nos parques de Vichy, 1951
O pinhal das dunas : é a luta heroica entre o pinhal e as dunas!, 1953
Portal do Estio, 1988 (Ed. póstuma)



Eis dois poemas de Halo do Equinócio:

AS ANDORINHAS E OS TORDOS

TEMA DA TRADIÇÃO POPULAR
MAL do Outono é a quadra anunciada
as andorinhas partem de abalada.

Partem levando toda a criação
dos filhos que cá nasceram,
com o quê assim os bandos mais cresceram;
c atravessando o mar todas lá vão.

Mas quando elas se vão, os tordos vêm
da sua viagem também;
mas esses menos que quando abalaram,
pela grande caçada que lhes deram
naquelas terras lá por onde andaram.

E ao cruzarem-se os bandos a voar,
gritam as andorinhas lá do ar:

Donde vindes, tordos loucos,
que fostes tantos e vindes poucos?

E perguntam-lhes eles sem parar:

Donde vindes, andorinhas,
que fostes poucas e tantas vindes?

E assim ao seu destino cada bando,
por sobre o mar lá segue voando...
voando. .

DIAS VIRÃO


            DIAS virão,
em que todos os bens exteriores
te darão só temores
e ao teu espírito a inquietação.

            Dias virão,
em que todas as tuas falsas glórias,
como falsas que são,
por tais as tomarás, e transitórias.

Dias virão,
em que os fúteis prazeres que sentias
gozo te não darão,
vazios dele a alma e esses dias.

Dias virão,
em que as mundanas cousas, ao redor
do teu cansaço delas, deixarão
dentro de ti um vácuo ainda maior.

            Dias virão,
em que uma íntima voz perguntará
à tua própria razão
o que de bom e de útil deixas cá.

Dias virão,
em que um só bem te pode aproveitar;
e perdido o terás sem remissão
se o não soubeste ganhar.

Dias virão,
em que através a frágil contingência
de tudo a ti postiço, e inglório, e vão,
te acharás só com tua consciência.

Dias virão,
em que, volvendo atrás o teu olhar,
seu veredicto escutarás então
ou para te absolver, ou condenar.

Dias virão,
em que o passado, neles revivido,
te dará a moral avaliação
do que ganhado tenhas, ou perdido,

Dias virão,
em que, sem mais consolo nem escudo,
vendo que os bens de ti todos se vão,
se esse, interior, não tens, perdido é tudo!

Biografia:
Colóquio Letras, n.º 92, julho de 1986.



domingo, 22 de fevereiro de 2015

BASTARDOS, Francisco Moita Flores



Histórias de gente que predominantemente é conhecida por alcunhas e que mais do que bandidos, salvo raras exceções, são pessoas empurradas para o crime pela sua própria condição social ou até pelo acaso, v.g., no consumo de drogas.
Perpassa por todo o livro uma visão negativa do que a prisão faz aos seus pensionistas. Há muito que se quer que as prisões sejam lugares de recuperação para a sociedade dos detidos, mas o que acontece com frequência é que aqueles que por lá passam, quando saem voltam a fazer o mesmo, funcionando aquela como uma escola de refinamento de vícios e de crimes.
Um dos presos, principal narrador, reflete sobre o que leva alguém ao crime e sobre modo como a sociedade encara aqueles que por ele enveredam:
«Não sei onde está a origem do verdadeiro mal. Mas o que se passa nas cadeias está mesmo mal.
Eu só conheço esta e a de Monsanto, mas a ideia que tenho é que nos metem aqui por castigo e, sobretudo, por vergonha. Escondem-nos dos olhos do mundo por vergonha. Assim como se fôssemos leprosos. Mas não é por nos esconderem que a lepra acaba.» (p. 129)
Também é aflorada a vertente do sofrimento dos familiares dos presos, principalmente mães e esposas.
É interessante e rápido ler este pequeno livro de Moita Flores para perceber melhor esta a relação entre polícias e os protagonistas de diversos crimes, principalmente assassínios e furtos / roubos, assim como dos consumidores de drogas.
A nível linguístico temos acesso a um grande conjunto de alcunhas, que facilmente se percebe a sua motivação. Os principais alvos destas alcunhas são defeitos físicos, actividade criminosa, proveniência geográfica ou familiar, preferências musicais, assim como sexuais.
Alguns exemplos: Zé Bexigoso, Chico Podre; Rodas Baixas (carteirista); Francês, Açoriano; Quico Milongas, Garganta Funda.

FLORES, Francisco Moita. Bastardos. Difel, 1989.
Sobre Moita Flores - Portal da Literatura.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

O COMBOIO DOS ÓRFÃOS, Christina Baker Kline



A partir de factos verídicos a autora narra uma possível vida de uma menina irlandesa que emigra com os pais para os Estados Unidos da América. Mostra-nos o seu percurso de dificuldades ainda na Irlanda – o pai bebe em demasia e a mãe não consegue organizar a vida doméstica –, seguido da miséria nos EUA, onde, depois da morte do pai, se vê sozinha e indigente, até ao comboio dos órfãos.
O comboio dos órfãos foi uma estratégia adotada pelas autoridades para tirar das ruas de Nova Iorque crianças abandonada e evitar que caíssem na via da depravação e do crime. As crianças, levadas para estados do interior, eram oferecidas a quem lhes quisesse dar um lar. A intenção era boa, mas facilitava também o abuso.
Numa das paragens do comboio a protagonista é escolhida por uma família sem filhos que a recebe apenas para explorar o seu trabalho, a mão de obra grátis na indústria de confeção feminina. Esta família vai à falência com a Grande Depressão e literalmente devolve-a à Children Aid. É então entregue a uma família de agricultores que vivem quase que apenas como caçadores e recoletores, mas que a deixam frequentar a escola. Não deixa de ser escravizada aqui, tratando de toda a lida da casa, pois a mulher do lavrador pouco mais faz do que permanecer na cama e procriar, prole de que a protagonista cuida como pode. O lavrador num dia de grande nevão tenta violar a menina, então com dez anos. É expulsa da barraca miserável onde vivem com pouco mais que a roupa que veste. Dirige-se à escola, onde a professora sempre fora amável para com ela. A professora é na sua salvação. Hospedada em casa de uma senhora da terra consegue que esta apoia Niamh. Orienta a sua recuperação e responsabiliza a autoridade tutelar local e descobrindo mesmo a solução para Niamh/Dorothy ao apresentá-la a um casal de amplos meios que a vem a tomar a seu cargo. Mais tarde muda o nome para Vivian e gere o armazém dos Nielsen, seus pais adotivos, com eficiência e dedicação. A partir daqui a sua vida foi basicamente feliz, sem grandes sobressaltos.
Casa-se com um rapaz que conhecera no comboio dos órfãos e que foi o seu grande amor, mas que vem a perder a vida na guerra, deixando-a grávida. Incapaz de lidar com mais esta perda, dá a sua menina para adopção. Mais tarde vem a casar-se com o melhor amigo do seu primeiro marido, mas não têm filhos por decisão de Vivian.
No presente da narrativa todas as histórias do passado estavam enterradas, como que esquecidas, na memória da já nonagenária Vivian.
Mas a sua história cruza-se então com uma jovem índia Penobscot, Molly Ayer, que está à beira de ser presa por ter tentado roubar da biblioteca um livro de Jane Eyre, se não arranjar forma de cumprir um serviço a favor da comunidade e quem se responsabilize por ela. Molly tem também um passado de perda do progenitor e de adoção / rejeição por várias famílias. É interessante notar quanto as estratégias mudaram, agora é o estado que paga aos pais adotivos para receberem as crianças.
É então através do encontro entre estas duas mulheres, Vivien com 91 anos e Molly a caminhar para os 18, que, alternadamente, a história de ambas nos é contada, naturalmente com maior relevo para a primeira. Acabam por se ajudar mutuamente compreendendo melhor as suas vidas e o percurso que as levou a ser o que são, superando a primeira os seus problemas e redimindo a segunda a sua vida passada, chegando mesmo a conhecer a filha que dera para adoção.

Sobre O Comboio dos Órfãos. (No fim do livro existe um anexo com esta informação)

KLINE, Christina Baker. O comboio dos órfãos. Asa, 2014.


quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

DISCURSO DO URSO, Julio Cortázar



História integrada no livro Historias de cronopios y de famas de 1962, agora ilustrada por Emilio Urberuaga, na celebração do centenário do seu nascimento.
Um urso vagueia pelos canos da casa. É ao mesmo tempo o medo dos humanos que não sabem explicar alguns dos barulhos que ocorrem nas tubagens das suas casas e uma explicação que maravilha as crianças, que, assim, percebem não haver razão para ter medo dos barulhos que os canos das suas habitações produzem.
O urso é uma entidade terna, extremamente amigável e protetora.
O texto curto e de fino humor é habilmente valorizado pela ilustração de Emilio Urberuaga.
Aqui fica uma imagem maravilhosa, com que acaba a história: …olho para a escuridão dos quartos onde vivem estes seres que não podem andar nos canos. E chego a ter pena deles ao vê-los tão desajeitados e grandes, ao ouvir como ressonam e sonham em voz alta, e como estão tão sós. Quando de manhã lavam a cara, acaricio-lhes as faces, lambo-lhes o nariz e vou-me embora, com a vaga certeza de ter feito bem.

Sobre o autor e o ilustrador transcreve-se a informação fornecida pela editora Kalandraka:

JULIO CORTÁZAR (Bruxelas, 1914 – Paris, 1984)
Viveu parte da sua infância na Bélgica e na Suíça. Estudou Letras e Magistério na Argentina, e foi professor em aldeias da província em Buenos Aires. Em 1944 deu cursos de literatura francesa na Universidade de Cuyo e em 1951, após obter uma bolsa do governo francês, estabeleceu-se definitivamente em Paris, onde construiu uma brilhante carreira literária que lhe daria o reconhecimento mundial. Da sua produção narrativa destacam-se Bestiario (1951), Final de juego (1956), Las armas secretas (1959), Historias de cronopios y de famas (1962), Todos los fuegos el fuego (1966) e os romances Los premios (1960), Rayuela (1963) e 62. Modelo para armar (1968). A obra de Cortázar foi traduzida para mais de trinta idiomas e ocupa um lugar de destaque no acervo literário do século XX.

EMILIO URBERUAGA (Madrid, 1954)
É o responsável gráfico por uma das personagens mais célebres da narrativa infantil espanhola: Manelinho Caixa de Óculos, traduzido em mais de dezoito línguas. A sua obra pessoal foi difundida na América Latina, Coreia, Estados Unidos, Espanha, Finlândia, França, Holanda, Inglaterra, Itália, Japão e Lituânia. Como escritor e ilustrador publicou vários trabalhos em editoras como Bohem Press, Edelvives e Anaya.
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CORTÁZAR, Julio. Discurso do urso. Kalandraka, 2008.


sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

A MINISTRA, Miguel Real



História de uma mulher com grande desejo de afirmação e que, com uma estratégia de paciência e sacrifício, pretende chegar ao lugar mais alto possível na hierarquia, primeiro docente, depois do estado.
É uma narrativa de primeira pessoa em que esta mulher conta, quando lhe vem à mente toda a sua história, de criança feliz a órfã, primeiro da mãe, vítima do próprio pai que à mata assim como ao amante desta, depois do próprio pai. É, então, desenraizada do Algarve para Lisboa para casa de uns tios que ela denomina de tio-pai e tia-mãe. Posteriormente é entregue a um orfanato, onde começa a sua educação e, pela sua persistência e apagamento, consegue começar uma carreira docente que a vai levar até à docência universitária. É uma espécie de longo monólogo em que ela avalia todo o seu percurso e como que decide se deve ou não aceitar um convite que lhe foi feito para ser Ministra da Educação e também a forma como agirá uma vez nesse cargo..
A história desta mulher é ironicamente uma crítica terrível ao nosso sistema educativo, nomeadamente aos professores, mas também ao carreirismo quer na docência quer na política.
A titulo de exemplo:
«…os alunos deviam aprender apenas o sumo dos sumos, nada mais, o mínimo que se exige para o início de uma profissão, nada mais […] o ideal seria preparar desde já, através de um conjunto restrito de leis, um novo grupo de professores exclusivamente técnicos, […] sem pretensões académicas, todos os anos devendo dar provas de que os seus alunos, […] estando longe de ter adquirido alguma sabedoria, pelo menos não reprovam, …» (p.42-43)
A candidata a ministra, no seu delírio, já se vê no cargo de “Presidenta da República” e começa a traçar o seu plano, mostrando claramente como encara os seus semelhantes: «…saiba eu conquistar o povo estúpido para o meu lado, manipular números com argúcia já sei, terei agora de aprender a manipular multidões […] mudo o ensino, mudo Portugal, esvazio-o de pretensões e vaidades, anulo as elites, faço criar novas a partir dos pequenos empresários […] que nem o ensino básico completo têm […], finalmente Portugal se harmonizará consigo próprio, um povo pobre, inculto, aparvalhado…»(p.130)
Depois de ler o livro, ocorrem-me esta quadra de António Aleixo:

Há tantos burros mandando
Em homens de inteligência,
Que às vezes fico pensando,
Se a burrice não será uma ciência.


REAL, Miguel. A Ministra. Quidnovi, 2009.