Nada melhor do que as palavras do autor para definir esta
história:
«Alfreda, ou a Quimera
tem a sua origem num conto que o semanário Expresso me encomendou para publicar
no Verão de 2007. Uma vez escrita essa vintena de páginas, apercebi-me de que a
história era susceptível de vários desenvolvimentos e foi isso o que tentei
fazer no mês de Agosto do mesmo ano.
A síntese é fácil de fazer: um coleccionador particular de
livros antigos deixa-se fascinar por uma mulher com quem esteve apenas duas
vezes e que acaba por se tornar uma obsessão para ele. No ramerrame da sua
existência, que corre sem grandes preocupações materiais, é este leitmotiv que vai conduzindo, ostensiva
ou implicitamente, a narrativa para o seu desfecho.
Ao longo do romance, vários textos de circunstância, alguns
inéditos, outros obscuramente publicados, ou então curtos fragmentos deles,
foram sendo incorporados na trama narrativa, por, em meu entender fazer sentido
cerzi-los em determinadas passagens e eles contribuírem para caracterizar
melhor personagens, ambientes e situações. Na verdade, um romance é o culminar
de muitas reflexões e muitas experiências da vida e da escrita. Que várias
delas tenham começado por ter expressão avulsa não as impede de figurarem no
lugar em que podem ganhar mais força e dar mais vitalidade ao todo. O problema
é exclusivamente do autor e o risco também.
Dei a alguns capítulos, embora não a todos, o título de
obras conhecidas, procurando com isso reforçar, de algum modo, a ligação e a
óptica do narrador ao universo dos livros. Recorri à tradução das Metamorfoses,
de Ovídio, de Paulo Farmhouse Alberto, e da llíada, de Homero, de Frederico
Lourenço, para duas breves citações destas obras que são feitas no texto. Pus
na boca de Pips, aliás William Brompton-St. James, algumas linhas de
Shakespeare e de T. S. Eliot, entre outros autores de língua inglesa. E
desejaria que o Porto, não um Porto propriamente «realista», mas um Porto quase
tumultuariamente imaginado num tropel em que se sobrepõem referências
objectivas e reminiscências afectivas, fosse tomado como uma das personagens
desta história.
Benfica do Ribatejo, 31 de Dezembro de 2007.»
Para além do que VGM sintetiza na nota acima, seduziu-me a
grande quantidade de referências à bibliofilia e os métodos utilizados para
encontrar livros antigos e valiosos.
O livro, ainda que tenha algumas referência cultas, é de fácil
e gratificante leitura.
MOURA, Vasco Graça. Alfreda, ou a Quimera. Círculo de
Leitores, 2009. 2.ª ed.