Notas de algumas leituras, sem pretensões de crítica literária.

Seleção de alguns poemas, com ou sem comentários.


sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Sobre "O Milagre das Rosas", por Pedro Penilo

O Pedro Penilo e a Cooperativa Teatro dos Castelos dinamizaram há uns anos um blogue denominado "O Logro das Rosas, Pão Ensebado". Como na altura escrevi uma pequena participação, transcrevo primeiro o texto do Pedro e depois o meu.

O “Milagre das Rosas” faz parte do meu arquivo de memórias tristes nos tempos da escola primária, das narrativas pseudo-históricas de J. H. Saraiva e do fascismo português.
O convite para participar na série de intervenções de arte urbana “Circuito das Fachadas – Outra Margem”, promovida no âmbito das Festas da Cidade de Coimbra, obrigou-me a tomar consciência de antiga suspeita, latente e difusa, guardada dos tempos de infância: a lenda – como todas as lendas, instrumento de formatação ideológica – esta lenda era, até para uma criança, profundamente amoral e inquietantemente actual no espelhamento dos vícios e perversões estruturantes da classe dirigente e elites do nosso país, ao longo da sua história.
“Outra Margem” tornou-se então para mim a outra versão, valores mais dignificantes, outros projectos para um povo celebrar. Coimbra, uma das mais antigas cidades da Península Ibérica, e a sua Universidade, das primeiras na Europa, merece ser representada por outras narrativas, símbolos e um imaginário de sabedoria, coragem e responsabilidade.


"ZUGSWANG", de Vítor Silva

Ante a pávida corte, o rei trovador faz a sua muda: xeque à rainha branca.
– «Senhor fremosa e do muj loução / coraçon», que levais nessa abada?
(Os cortesãos suspendem a respiração.)
– São rosas, Senhor, são rosas!
– Cavaleiros, bispos e castelões teimam que é pão para peões.
Abre-se o regaço. (O cortês público ovaciona eufórico, clama milagre.) Perde o poeta o pé. Ai! Pica-se nos espinhos do ludíbrio da razão, do logro da coerência.
Fora outro o conteúdo do avental, baniria Denis (gr. Diónysus) a santa e real consorte?
Xeque-mate!

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

GUERREIRO, Luís, Guia de Salto, Centelha, Coimbra, 1974

Teoria da história

O alfaiate
a padeira
o almocreve

Se discursam
com o povo
por ouvinte

o rei tem
uma espada
a rainha
uma esmola
que os farta
e degola



Nota: Encontra-se uma pequena referência a Luís Guerreiro aqui.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

HORTA, Maria Teresa, Educação Sentimental, 1975



Debruça-te, amor
e colhe-me a manhã

bebe-me o hálito
morde-me os gemidos

eu sou o copo
de cicuta

(o vinho)

com o qual envenenas
os sentidos



Imagem em: http://www.astormentas.com/multimedia.aspx?t=autor&id=Maria+Teresa+Horta

SAYLOR, Steven, Sangue Romano – Um mistério na Roma antiga, Quetzal, 3.ª ed., 2000.


Para quem goste de romance policial o livro não desilude, do ponto de vista histórico não estou tão seguro, no entanto não há dúvida que o autor investigou o período em que situa a acção.
A história é longa, mas não é cansativa. A extensão é mitigada por uma boa técnica narrativa que prende o leitor ao confrontá-lo com várias peripécias.
Apreciei especialmente dois pontos:
Toda a intriga política faz dos nossos políticos autênticos meninos de coro.
Nota: O advogado de defesa do caso à volta do qual é construída a narrativa é nem mais nem menos do que Marco Túlio Cícero (grão-de-bico).
A figura do detective privado, o descobridor, que apresenta muitas das características de detectives célebres. Não as capacidades dedutivas do belga de Agatha Christie, mas a persistência canina dos heróis de, p. ex., Raymond Chandler, Mickey Spillane.
Retive, a diferentes níveis, duas pequenas pérolas:
Um eufemismo: “Todos nós sabemos que Sula lança as suas redes para os dois lados do barco.”p.73 (=Tanto procura relações com mulheres como com homens.)
A diferenciação entre ordenado e despesas: “Afinal, tenho uma conta para essas despesas com o teu senhor.” p.113.

A imagem do autor encontra-se em http://www.wook.pt/Authors/detail/id/8182.
Nota: Há também uma edição da Bertrand de 2008.