A narração, à semelhança de outros livros seus, confunde-se
entre o eu que conta dentro da acção (intradiegético) e um outro eu fora da
acção (extradiegético). Sempre numa linguagem coloquial, mordaz, e prolixa em
comentários sobre as atitudes das personagens ou mesmo sobre qualquer outro
assunto que, por associação de ideias, surja. Esta atitude é mesmo assumida
pois, numa fase em que dialoga com o papel em que escreve, diz: «Sim, papel,
estico-me em demasia e perco o fio à meada.» (p. 173)
Este romance é tão, se não mais, iconoclasta, sacrílego que
O Evangelho segundo Jesus Cristo de
José Saramago. Não se terão ouvido muitas críticas pois não estamos perante um
candidato ao Nobel. Não há dúvida, porém, que os católicos praticantes se
sentirão ofendidos na sua fé.
Basicamente um detective, aparentemente não muito
inteligente, que cita um hipotético manual da profissão em versículos, é
encarregado de encontrar um homem que não é mais nem menos do que Jesus Cristo.
Esta busca justifica-se com base na ocorrência da ressurreição. O livro começa
por mostrar a ausência do corpo de Jesus do túmulo onde fora colocado, ainda
que esse pequeno fragmento narrativo não respeite totalmente a narrativa
bíblica. Uma vez que não foi encontrado e é imortal há de andar por aí. É só
preciso encontrá-lo…
Transcreve-se da contracapa:
«Sam Espinosa é um homem que não acredita em nada. Até ao
dia em que morre e se enamora. A partir daí, não tem outro remédio senão passar
a acreditar…
Em suma, ele ainda não sabe, mas vai encontrar Jesus.»
Sobre o autor (p. 4):
«Rui Zink nasceu em 16
de Junho de 1961. Escritor e professor
auxiliarna FCSH-UNL, a sua escrita estende-se pela ficção, o ensaio e o teatro.
É autor de várias traduções e alguns dos seus livros foram traduzidos para alemão,
hebraico, inglês e português. Da sua obra destacamos os romances Hotel Lusitano, Apocalipse Nau e O Suplente;
os livros de contos A Realidade Agora a
Cores e Homens-Aranhas e a novela
A Espera. É ainda autor do romance Os
Surfistas, o primeiro e-book português, e co-autor de Major Alverca e dos livros infantis O bebé que… não gostava de televisão, O bebé que… não sabia quem era e O bebé que… fez uma birra, editados pelas publicações Dom Quixote.
É membro da direcção do movimento espiritual Felizes da Fé (www.felizes.com) e da Associação dos
Cidadãos Auto-Mobilizados (www.aca-m.org).»
ZINK, Rui. Dádiva
divina. Dom Quixote, 2.ª ed., 2004
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