Afirma no texto inicial, a que chama Pórtico, que este
estilo, se de estilo se trata, se deve à natural preguiça e à velocidade da
vida.
Estes textos contam, em muito poucas palavras, histórias
relevantes de um quotidiano intemporal e por eles perpassa um certo pessimismo,
mas também uma saudável ironia. Seguem-se três exemplos:
O ciclo da vida que inexoravelmente cairá no esquecimento:
«As horas passam. Passam. Passam. O bébé nasceu.
As horas passam. Passam. Passam. O homem sofreu.
As horas passam. Passam. Passam. O homem morreu.
As horas passam. Passam. Passam. Já ninguém mais chora.» (p. 21)
A fatalidade da morte de uma criança nunca esquecida:
«Um brinquedo. Uma família que já não chora. Um berço
vazio. Um brinquedo sempre à espera.» (p 25)
O mundo ao contrário, a inversão das relações hierárquicas,
a subjugação aceite através da ideia de pertença. O peso da rotina. Todas as
vidas estão circundadas de uma gaiola. Apenas umas são maiores do que outras:
«Um pássaro de gaiola espera que o seu dono saia da prisão
Do dia a dia.» (p. 77)
Nota: O livro é profusamente ilustrado por AVICENTE.
AMARAL, Fernando Eloy do. Contos Silábicos. Edição
de autor, 1959
de autor, 1959
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