Notas de algumas leituras, sem pretensões de crítica literária.

Seleção de alguns poemas, com ou sem comentários.


domingo, 14 de setembro de 2014

CONTOS SILÁBICOS, Fernando Eloy do Amaral




Afirma no texto inicial, a que chama Pórtico, que este estilo, se de estilo se trata, se deve à natural preguiça e à velocidade da vida.
Estes textos contam, em muito poucas palavras, histórias relevantes de um quotidiano intemporal e por eles perpassa um certo pessimismo, mas também uma saudável ironia. Seguem-se três exemplos:

O ciclo da vida que inexoravelmente cairá no esquecimento:

«As horas passam. Passam. Passam. O bébé nasceu.
As horas passam. Passam. Passam. O homem sofreu.
As horas passam. Passam. Passam. O homem morreu.
As horas passam. Passam. Passam. Já ninguém mais chora.» (p. 21)

A fatalidade da morte de uma criança nunca esquecida:

«Um brinquedo. Uma família que já não chora. Um berço
vazio. Um brinquedo sempre à espera.» (p 25)

O mundo ao contrário, a inversão das relações hierárquicas, a subjugação aceite através da ideia de pertença. O peso da rotina. Todas as vidas estão circundadas de uma gaiola. Apenas umas são maiores do que outras:

«Um pássaro de gaiola espera que o seu dono saia da prisão
Do dia a dia.» (p. 77)

Nota: O livro é profusamente ilustrado por AVICENTE.

AMARAL, Fernando Eloy do. Contos Silábicos. Edição
de autor, 1959


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