Notas de algumas leituras, sem pretensões de crítica literária.

Seleção de alguns poemas, com ou sem comentários.


domingo, 31 de dezembro de 2017

HOMENS BONS, de Arturo Pérez-Reverte


«…não há melhor pedra de amolar lâminas do que a letra impressa.» (p.226)

Arturo Pérez-Reverte parece querer lutar contra a tacanhez, a ignorância, a resistência à mudança e ao progresso, valorizando a honra e a lealdade, assim como conhecimento manifestado à época pelos militares mais ilustrados. Por outro lado, critica fortemente o poder dos reis e dos nobres que ignoram e maltratam aqueles que governam, pelos quais deviam velar e providenciar para que as suas vidas fossem menos duras. O autor aproveita também para indiciar a Revolução Francesa que se aproximava…


As críticas ao passado acima referidas valem, sem dúvida, também para as estruturas governativas do nosso tempo.



É facto que na biblioteca da Real Academia Espanhola existe una coleção completa da Encyclopédie, ou dictionnaire raisonné des sciences, des arts et des métiers… publicada por M. Diderot … e M. D’Alembert. É a partir desta descoberta que o autor homenageia a Academia Espanhola, da qual faz parte desde 2003, e cria este romance histórico que, para além do valor intrínseco da história em si, vale também pela reflexão integrada no texto do seu processo de criação e construção, invocando pesquisas para este e para romances anteriores, assim como o recurso a uma bem fornecida biblioteca pessoal. Nesta perspetiva podemos mesmo falar de um metaromance, ou seja: um romance que pensa o romance.

Recria os costumes de Paris no século das luzes e, talvez por isso, aí decorre grande parte da ação, colocando os dois «homens bons», acompanhados de um seu compatriota, padre e revolucionário, em vários dos lugares em que se discutia o presente e o futuro das ciências e das sociedades, comparando amiúde a situação de Espanha com a de França.

Na parte final parece um pouco forçada a maneira como se preservam os 28 volumes da Enciclopédia, no entanto o desenlace acaba por ser bem conseguido, pois os livros apenas se salvam devido à coragem de quem nunca se esperaria e ao apego à pele do bandido encarregado de boicotar a missão dos dois membros da Academia Espanhola.

SINOPSE do editor: «Na Europa do século XVIII, dois homens viajam em segredo. A sua missão? Levar para Espanha algo proibido: os 28 volumes da Enciclopédia Francesa de D'Alembert e Diderot. A delicada tarefa está nas mãos do bibliotecário don Hermógenes Molina e do almirante don Pedro Zárate, membros da Real Academia Espanhola. Mas estes dois académicos estão longe de imaginar as peripécias que os aguardam… Da Madrid de Carlos III à Paris libertina e pré-revolucionária, com os seus cafés e tertúlias filosóficas, don Hermógenes e don Pedro embarcam numa intrépida aventura, repleta de heróis e vilãos, intrigas e incertezas. Com o rigor a que já nos habituou – e baseando-se em acontecimentos e personagens reais, Arturo Pérez-Reverte transporta-nos para a magnífica era do Iluminismo, quando a ânsia de liberdade derrubava a ordem estabelecida, e dá-nos a conhecer os heroicos homens que quiseram mudar o mundo com os livros. Um romance sobre fé e razão, Teologia e Ciência, sombra e luz.»

PÉREZ-REVERTE, Arturo. Homens bons. Asa, 2016

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