HIPÁLAGE: «Processo
de valorização estilística que consiste na atribuição a um objecto de uma
característica que, na realidade, pertence a outro com o qual está relacionado.
Transposto na frase, o adjectivo aparece muito frequentemente nesta construção,
ligando ao objecto uma característica moral pertencente ao sujeito (ex.:”...com
um barretinho de seda enterrado melancolicamente até ao cachaço”.»
Não sendo uma entrada normal neste blogue, tem a ver com a
leitura e com a fruição desta. Aqui ficam alguns exemplos deste recurso
estilístico que é muito interessante e produtivo.
Grandes escritores de língua portuguesa utilizaram-no,
frequentemente com muita ironia. Em relação a Eça de Queirós é referido como um
dos seus traços estilísticos, Mais recentemente Lobo Antunes tem-se servido
dele copiosamente.
AMADO, Jorge. Suor. Record, 44.ª ed., 1986
«...de
negras que sorriam com dentes amigos.» (p. 33)
«O
mendigo descia a ladeira com o passo tardio.» (p.40)
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No primeiro
caso as negras serão amigas e não os seus dentes, e no segundo quem estará atrasado é o mendigo … não
os seus passos.
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ANTUNES, António Lobo. A Explicação dos Pássaros
«...pela
porta aberta da cozinha avistava-se uma vassoura diligente a varrer os
azulejos do chão.» (p. 78)
«Às
sextas-feiras uma mulher a dias da tua raça corria um pano distraído e
inócuo pela porcaria amontoada..» (p.95)
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BAPTISTA-BASTOS, A colina de Cristal. Edições Asa,
4ª ed., 2000
«O
restolhar de botas impacientes e de frases sacudidas.» (p. 148)
«Lá
estava o olho vigilante, o olho turvo. Lá estava, vertiginoso, o olho
atento. O olho triste, o olho lúgubre.» (p.157)
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JORGE, Lídia. O Jardim sem Limites, Círculo de
Leitores, 1996
«O jornalista imberbe tinha começado a tomar notas com
uma caneta rápida.» (p.50)
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LEIRIA, Mário-Henrique. Novos Contos do Gin. Editorial
Estampa, 5.ª ed., 1999.
«-
Também creio, meu general! afirmou, disciplinado e respeitoso o capitão.
Puxou da pistola de ordenança e disparou um tiro correcto na nuca do
general.» (p. 53).
«No
alto, atrás da aresta rochosa que dominava a colina, observou discretamente,
na procura preocupada do ruído escutado.» (p. 63)
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MIGUÉIS, José Rodrigues. Gente da Terceira Classe
«Daí a pouco o tio, de chapéu severo na cabeça...»
(p.258)
«Um
galo rouquejou em voz molhada...» (p. 261)
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NAMORA, Fernando. O Homem disfarçado, Arcádia, 3.ª
ed.
«E João Eduardo aproveitou a pausa para ensaboar
rapidamente as mãos enojadas.» (p. 157)
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ORTIGÃO, Ramalho. Farpas
«- E, tendo descalçado uma das luvas azuis, comprimia com
mão nervosa o alto da sua pequena cabeça de galo...»
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PIRES, José Cardoso, A
República dos Corvos. 1.ª ed., 1988
«O
Juiz, na sua mesa solitária, ficou à espera...» (p.39)
«Estendeu
uma mão distraída para o rádio e ligou.» (p. 65)
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