História de um dentista, Stalin Martínez, que, apanhado no
desvio bem sucedido de um barco para fugir de Cuba, volta pelo amor a sua
mulher e família.
Durante a breve permanência em Miami, o irmão Lenine,
advogado em Cuba, Leo, agora com a muito mais rentável profissão de palhaço, não
o consegue dissuadir de voltar. Então oferece-lhe compras no valor de 600 dólares,
que este acaba por gastar a comprar uma maravilhosa bicicleta.
Em Cuba é recebido como um herói. Para justificar o facto
de não ter trazido nenhuma lembrança para ninguém, diz que a bicicleta lhe foi
oferecida pelas autoridades cubanas pela sua atitude de amor à pátria.
Quando chega a casa apercebe-se de que já perdera a mulher
e, enquanto destrói vários pertences de que ela gosta ou precisa, a bicicleta
que deixara bem presa à grade da casa, é roubada arrancando grade e tudo.
Desesperado, aproveita para fugir para os Estados Unidos.
quando lhe é dada, omo prémio, uma saída ao México para apresentar uma conferência
sobre um trabalho que não lhe pertence, mas sim à sua chefe,
Em Miami, sujeita-se a viver cerca de dez dias num terraço em
casa do irmão, apenas com um bidão de água do mar e à míngua de alimentos para
simular a fuga de um balseiro[1], na
tentativa de conseguir o asilo político que ainda há pouco rejeitara.
É durante esses dias que ocorre a narração. Assim se torna
possível misturar o que lhe está a acontecer ali, com toda a sua vida anterior,
permitindo a recordação, às vezes numa espécie de delírio, de episódios da infância,
relações familiares e laborais… Esta estratégia de narração revela-se muito
interessante.
O romance vale sobretudo pelo retrato de Cuba, ainda de
Fidel Castro, e não de seu irmão Raúl, com amplas marcas de ironia, veja-se,
por exemplo, o facto de Cuba ser “um museu vivo e gigantesco”, a situação em
que Fidel é para o seu sobrinho o papão com que é ameaçado, ou “Fidel Castro
continuava no poder porque a sua barba era formada por dez milhões de cobardes.”
(p. 50).
Naturalmente há muitas referências políticas, mais ou menos
subtis, mas vale mais pelo retrato de algumas realidades que estão em vias de
mudança.
Duas comparações interessantes:
“…vazio como uma tarde de domingo…” (p. 244)
“…escura como enterro de pobre…” (p. 244)
Importa, talvez, mencionar que este romance nasceu como
guião cinematográfico. O livro acaba por sair por ainda não ter sido possível
realizar o filme.
DÍAZ, Jesús. Conta-me coisas de Cuba. Âmbar,
2001.
[1]
Balsero – Aquele que foge de Cuba num
pequeno barco e que, quando consegue chegar, se apresenta com marcas de insolação
e subnutrição.
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