Notas de algumas leituras, sem pretensões de crítica literária.

Seleção de alguns poemas, com ou sem comentários.


terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Conta-me coisas de Cuba. de Jesús Díaz



História de um dentista, Stalin Martínez, que, apanhado no desvio bem sucedido de um barco para fugir de Cuba, volta pelo amor a sua mulher e família.
Durante a breve permanência em Miami, o irmão Lenine, advogado em Cuba, Leo, agora com a muito mais rentável profissão de palhaço, não o consegue dissuadir de voltar. Então oferece-lhe compras no valor de 600 dólares, que este acaba por gastar a comprar uma maravilhosa bicicleta.
Em Cuba é recebido como um herói. Para justificar o facto de não ter trazido nenhuma lembrança para ninguém, diz que a bicicleta lhe foi oferecida pelas autoridades cubanas pela sua atitude de amor à pátria.
Quando chega a casa apercebe-se de que já perdera a mulher e, enquanto destrói vários pertences de que ela gosta ou precisa, a bicicleta que deixara bem presa à grade da casa, é roubada arrancando grade e tudo.
Desesperado, aproveita para fugir para os Estados Unidos. quando lhe é dada, omo prémio, uma saída ao México para apresentar uma conferência sobre um trabalho que não lhe pertence, mas sim à sua chefe,
Em Miami, sujeita-se a viver cerca de dez dias num terraço em casa do irmão, apenas com um bidão de água do mar e à míngua de alimentos para simular a fuga de um balseiro[1], na tentativa de conseguir o asilo político que ainda há pouco rejeitara.
É durante esses dias que ocorre a narração. Assim se torna possível misturar o que lhe está a acontecer ali, com toda a sua vida anterior, permitindo a recordação, às vezes numa espécie de delírio, de episódios da infância, relações familiares e laborais… Esta estratégia de narração revela-se muito interessante.
O romance vale sobretudo pelo retrato de Cuba, ainda de Fidel Castro, e não de seu irmão Raúl, com amplas marcas de ironia, veja-se, por exemplo, o facto de Cuba ser “um museu vivo e gigantesco”, a situação em que Fidel é para o seu sobrinho o papão com que é ameaçado, ou “Fidel Castro continuava no poder porque a sua barba era formada por dez milhões de cobardes.” (p. 50).
Naturalmente há muitas referências políticas, mais ou menos subtis, mas vale mais pelo retrato de algumas realidades que estão em vias de mudança.

Duas comparações interessantes:
“…vazio como uma tarde de domingo…” (p. 244)
“…escura como enterro de pobre…” (p. 244)

Importa, talvez, mencionar que este romance nasceu como guião cinematográfico. O livro acaba por sair por ainda não ter sido possível realizar o filme.


DÍAZ, Jesús. Conta-me coisas de Cuba. Âmbar,  2001.




[1] Balsero – Aquele que foge de Cuba num pequeno barco e que, quando consegue chegar, se apresenta com marcas de insolação e subnutrição.

Sem comentários:

Enviar um comentário

Idealmente, discorde, comente, esclareça a interpretação do texto ou livro em apreço.