Notas de algumas leituras, sem pretensões de crítica literária.

Seleção de alguns poemas, com ou sem comentários.


sábado, 26 de dezembro de 2009

O VELHO E O MAR


Vi hoje na televisão que três pescadores pescaram um espadim azul gigante, 418 kg. Feito notável que demorou sete horas a concretizar, usando tecnologia de pesca desportiva já muito apurada.
Lembrei-me então de O Velho e o Mar de Ernest Hemingway. É a história de um velho pescador a quem, há já algum tempo, o azar persegue: não pesca um peixe grande há muito tempo e, por isso, perdeu o seu ajudante, que, no entanto, ainda o ajuda, mas não no barco, apoia-o em terra.
Um dia afasta-se de Havana mais do que qualquer outro e consegue ferrar um peixe com quem trava uma luta longa e respeitosa mas determinada. O peixe arrasta-o durante dias. O velho vai lutando para não perder o peixe. Sobrevive de pequenos peixes que vai conseguindo pescar com as outras linhas que levava preparadas no barco.
Finalmente consegue vencer a resistência do grande peixe, depois de se superar várias vezes, quer na incrível resistência física, conseguindo manter a pressão da linha dia e noite, quer moralmente, sobrevivendo ao desânimo e ao apelo à desistência. Prende então o enorme peixe, que é mais comprido que o barco.
Inicia então a viagem de regresso, larga uma pequena vela, que o ajuda a rumar ao porto de Havana. Não sabe onde está, mas sabe como o há-de atingir, pois conhece as correntes e o vento e, quando a noite cair, verá com certeza o halo de luz da cidade.
Infelizmente está muito longe e a viagem dura muitas horas. Surge um tubarão. Consegue matar este primeiro, mas com isso acaba por perder o seu único arpão. O tubarão afunda-se no oceano mas avolumou o rasto deixado pelo peixe. Outros surgem. Com os parcos recursos que possui consegue matar alguns, mas é uma batalha perdida. O peixe cada vez vai ficando mais destroçado, chamando mais tubarões e ele cada vez mais debilitado e sem nada com que os repelir.
Consegue chegar a Havana quando todos dormem. Exausto arrasta o barco para a praia e a si próprio para a cabana onde vive. Na praia ficou o enorme espadarte, mas é apenas cabeça e cauda. Quando acorda com o rapaz, seu ajudante, à cabeceira da tarimba forrada de jornais, assume com resignação a sua perda e o seu sofrimento.
Faz-me pensar agora, um pouco longe dos propósitos de Hemingway, que quando um pobre consegue um bocado maior, logo os tubarões lho reclamam. Assim como a resignação com que nós, hoje em dia, aceitamos toda a violência que sobre a nossa e outras classes têm recaído.


(A imagem acima encontra-se em http://www.bestiario.com.br/6_arquivos/velho%20mar.jpg)

1 comentário:

  1. De facto nada se compare a quem domina a ténica e de uma forma sábia cultiva os demais. O Ernest Hemingway é mesmo assim e ao conto tão ancestralmente conhecido deste-lhe um remate final esplendido! Parabéns e admiro a tua paciência para a transcrição.
    Vou passar a consultar o teu blog! Tenho pena de não dominar estas máquinas ou deter o conhecimento suficiente para assim poder fazer algumas outras coisas.
    Graça Roque (no Netlog)

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