Notas de algumas leituras, sem pretensões de crítica literária.

Seleção de alguns poemas, com ou sem comentários.


sábado, 26 de dezembro de 2009

A METAMORFOSE, Franz Kafka (1883-1924)


Um jovem acorda uma manhã transformado num monstro, um insecto viscoso e achatado de pernas curtas, julgando-se vítima de uma alucinação. A família mostra-se horrorizada perante tal aberração, ou talvez por ter perdido a sua fonte de rendimento, pois era ele que provia ao sustento de todos lá em casa. O pai, a mãe e a irmã vêem-se forçados a trabalhar, a segunda em casa e os outros fora. Dão-lhe cada vez menos atenção e desejam a sua morte. Quando tal acontece desfazem-se do cadáver e exultam.
É interessante constatar que o jovem não perde nada da sua condição de humano, excepto a forma. Os seus sentimentos e pensamentos mantêm-se humanos, sendo mesmo a mais humana das personagens: faz esforços impressionantes para dominar o seu novo corpo; respeita e teme o pai; mostra-se desolado por já não poder sustentar a família; esconde-se para não causar repugnância à família e hóspedes; faz o favor de morrer quando a sua morte é desejada.
O jovem manteve-se igual a si próprio na sua nova aparência, o que é muito diferente de histórias do género fantástico em que homens se transformam em animais selvagens e violentos, perdendo completamente o controlo da sua identidade. São frequentes as transformações de homens em lobos e de mulheres em felinos.
É ainda impressionante que a metamorfose seja aceite sem ser questionada por todos os intervenientes, sem que consultem os representantes da sabedoria, padres, médicos…, para validar a possibilidade de uma tal transformação. De facto «a ciência destrói o mistério»!

Certamente que a nível filosófico esta história terá uma leitura bem diferente.


KAFKA, Franz, A Metamorfose, 2.ª ed., Edições Quasi

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