A partir de factos verídicos a autora narra uma possível
vida de uma menina irlandesa que emigra com os pais para os Estados Unidos da
América. Mostra-nos o seu percurso de dificuldades ainda na Irlanda – o pai
bebe em demasia e a mãe não consegue organizar a vida doméstica –, seguido da
miséria nos EUA, onde, depois da morte do pai, se vê sozinha e indigente, até
ao comboio dos órfãos.
O comboio dos órfãos foi uma estratégia adotada pelas
autoridades para tirar das ruas de Nova Iorque crianças abandonada e evitar que
caíssem na via da depravação e do crime. As crianças, levadas para estados do
interior, eram oferecidas a quem lhes quisesse dar um lar. A intenção era boa,
mas facilitava também o abuso.
Numa das paragens do comboio a protagonista é escolhida por
uma família sem filhos que a recebe apenas para explorar o seu trabalho, a mão
de obra grátis na indústria de confeção feminina. Esta família vai à falência
com a Grande Depressão e literalmente devolve-a à Children Aid. É então
entregue a uma família de agricultores que vivem quase que apenas como
caçadores e recoletores, mas que a deixam frequentar a escola. Não deixa de
ser escravizada aqui, tratando de toda a lida da casa, pois a mulher do
lavrador pouco mais faz do que permanecer na cama e procriar, prole de que a
protagonista cuida como pode. O lavrador num dia de grande nevão tenta violar a
menina, então com dez anos. É expulsa da barraca miserável onde vivem com pouco
mais que a roupa que veste. Dirige-se à escola, onde a professora sempre fora
amável para com ela. A professora é na sua salvação. Hospedada em casa
de uma senhora da terra consegue que esta apoia Niamh. Orienta a sua
recuperação e responsabiliza a autoridade tutelar local e descobrindo mesmo a
solução para Niamh/Dorothy ao apresentá-la a um casal de amplos meios que a vem
a tomar a seu cargo. Mais tarde muda o nome para Vivian e gere o armazém dos
Nielsen, seus pais adotivos, com eficiência e dedicação. A partir daqui a sua
vida foi basicamente feliz, sem grandes sobressaltos.
Casa-se com um rapaz que conhecera no comboio dos órfãos e
que foi o seu grande amor, mas que vem a perder a vida na guerra, deixando-a
grávida. Incapaz de lidar com mais esta perda, dá a sua menina para adopção.
Mais tarde vem a casar-se com o melhor amigo do seu primeiro marido, mas não
têm filhos por decisão de Vivian.
No presente da narrativa todas as histórias do passado
estavam enterradas, como que esquecidas, na memória da já nonagenária Vivian.
Mas a sua história cruza-se então com uma jovem índia Penobscot,
Molly Ayer, que está à beira de ser presa por ter tentado roubar da biblioteca um
livro de Jane Eyre, se não arranjar forma de cumprir um serviço a favor da
comunidade e quem se responsabilize por ela. Molly tem também um passado de
perda do progenitor e de adoção / rejeição por várias famílias. É interessante
notar quanto as estratégias mudaram, agora é o estado que paga aos pais adotivos para receberem as crianças.
É então através do encontro entre estas duas mulheres,
Vivien com 91 anos e Molly a caminhar para os 18, que, alternadamente, a
história de ambas nos é contada, naturalmente com maior relevo para a primeira.
Acabam por se ajudar mutuamente compreendendo melhor as suas vidas e o percurso
que as levou a ser o que são, superando a primeira os seus problemas e
redimindo a segunda a sua vida passada, chegando mesmo a conhecer a filha que
dera para adoção.
Sobre O Comboio dos Órfãos. (No fim do livro existe um anexo com esta informação)
Sobre Christina Baker Kline.
KLINE, Christina Baker. O comboio dos órfãos. Asa, 2014.
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