Notas de algumas leituras, sem pretensões de crítica literária.

Seleção de alguns poemas, com ou sem comentários.


sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

O COMBOIO DOS ÓRFÃOS, Christina Baker Kline



A partir de factos verídicos a autora narra uma possível vida de uma menina irlandesa que emigra com os pais para os Estados Unidos da América. Mostra-nos o seu percurso de dificuldades ainda na Irlanda – o pai bebe em demasia e a mãe não consegue organizar a vida doméstica –, seguido da miséria nos EUA, onde, depois da morte do pai, se vê sozinha e indigente, até ao comboio dos órfãos.
O comboio dos órfãos foi uma estratégia adotada pelas autoridades para tirar das ruas de Nova Iorque crianças abandonada e evitar que caíssem na via da depravação e do crime. As crianças, levadas para estados do interior, eram oferecidas a quem lhes quisesse dar um lar. A intenção era boa, mas facilitava também o abuso.
Numa das paragens do comboio a protagonista é escolhida por uma família sem filhos que a recebe apenas para explorar o seu trabalho, a mão de obra grátis na indústria de confeção feminina. Esta família vai à falência com a Grande Depressão e literalmente devolve-a à Children Aid. É então entregue a uma família de agricultores que vivem quase que apenas como caçadores e recoletores, mas que a deixam frequentar a escola. Não deixa de ser escravizada aqui, tratando de toda a lida da casa, pois a mulher do lavrador pouco mais faz do que permanecer na cama e procriar, prole de que a protagonista cuida como pode. O lavrador num dia de grande nevão tenta violar a menina, então com dez anos. É expulsa da barraca miserável onde vivem com pouco mais que a roupa que veste. Dirige-se à escola, onde a professora sempre fora amável para com ela. A professora é na sua salvação. Hospedada em casa de uma senhora da terra consegue que esta apoia Niamh. Orienta a sua recuperação e responsabiliza a autoridade tutelar local e descobrindo mesmo a solução para Niamh/Dorothy ao apresentá-la a um casal de amplos meios que a vem a tomar a seu cargo. Mais tarde muda o nome para Vivian e gere o armazém dos Nielsen, seus pais adotivos, com eficiência e dedicação. A partir daqui a sua vida foi basicamente feliz, sem grandes sobressaltos.
Casa-se com um rapaz que conhecera no comboio dos órfãos e que foi o seu grande amor, mas que vem a perder a vida na guerra, deixando-a grávida. Incapaz de lidar com mais esta perda, dá a sua menina para adopção. Mais tarde vem a casar-se com o melhor amigo do seu primeiro marido, mas não têm filhos por decisão de Vivian.
No presente da narrativa todas as histórias do passado estavam enterradas, como que esquecidas, na memória da já nonagenária Vivian.
Mas a sua história cruza-se então com uma jovem índia Penobscot, Molly Ayer, que está à beira de ser presa por ter tentado roubar da biblioteca um livro de Jane Eyre, se não arranjar forma de cumprir um serviço a favor da comunidade e quem se responsabilize por ela. Molly tem também um passado de perda do progenitor e de adoção / rejeição por várias famílias. É interessante notar quanto as estratégias mudaram, agora é o estado que paga aos pais adotivos para receberem as crianças.
É então através do encontro entre estas duas mulheres, Vivien com 91 anos e Molly a caminhar para os 18, que, alternadamente, a história de ambas nos é contada, naturalmente com maior relevo para a primeira. Acabam por se ajudar mutuamente compreendendo melhor as suas vidas e o percurso que as levou a ser o que são, superando a primeira os seus problemas e redimindo a segunda a sua vida passada, chegando mesmo a conhecer a filha que dera para adoção.

Sobre O Comboio dos Órfãos. (No fim do livro existe um anexo com esta informação)

KLINE, Christina Baker. O comboio dos órfãos. Asa, 2014.


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