Jorge Sousa Braga, poeta e médico.
O poeta do Herbário, Assírio & Alvim, 1999,
com belos poemas para crianças que todos os adultos deveriam ler. A este livro
foi atribuído o Grande Prémio Gulbenkian de Literatura Infantil.
Do livro A Greve dos Controladores de Voo,
Fenda, 1984, recordo a fina ironia de, p. ex., «Todos aqueles que nos primeiros
dias de Março perscrutavam atentamente o céu ficaram desapontados. este ano as
andorinhas chegarão atrasadas devido a uma greve dos controladores de voo.»
Do livro Os Pés Luminosos, Centelha, 1987,
aqui ficam dois poemas que, ainda que não respeitem esquemas métricos, são bem
cadenciados:
DESERTO
Dantes havia homens que se retiravam para o deserto. Para
melhor se conhecerem, para comunicarem com Deus, mas nenhum – penso – para
conhecer o deserto. Alimentavam-se de mel e gafanhotos, quando não jejuavam.
Agora foi o deserto que se instalou no meio de nós. E os seus
desígnios não são menos obscuros.
CONSTELAÇÕES
As estrelas mostram-se hostis a qualquer tentativa de
aproximação. Em alguns milhares de anos, tudo o que conseguimos fazer foi
agrupá-las em constelações. Mas será que a última estrela da cauda da Ursa
Maior sente alguma identificação com uma das estrelas da cabeça? Duvido. E o
mesmo se passa com as estrelas de Andrómeda, Orion, Centauro, Cassiopeia. A sua
– como a nossa – solidão é enorme.
Uauuu... que bárbaro! Eu não chamaria de poemas, mas de mini-contos... Amei os dois que vc transcreveu.
ResponderEliminarObrigada pela partilha!
Abraço!
Já que gostou tanto, aqui tem mais um do mesmo livro.
EliminarAO RELENTO
Para encherem a noite, os grilos não precisam mais que de uma lura. Mesmo no cativeiro, continuam a cantar…
Para o homem, momentos há – e é doloroso reconhecê-lo – em que até o universo é uma prisão.
BRAGA, Jorge Sousa. Os Pés Luminosos (p.29)
é bom poema! que bom gostoo!
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