Encontrei, no passado sábado, um livrinho de literatura
infanto-juvenil, com texto de Umberto Eco e ilustrações de Eugenio Carmi: Os
Gnomos de Gnu.
Ignorava que Eco escrevesse para crianças, mas o livro surpreendeu-me. É extraordinário. Fiquei a
saber que escreveu outros, com o mesmo ilustrador: A bomba e o general e Os
três astronautas, ambos editados pela Quetzal Editores em 1989. Tentarei
encontrá-los.
Simples e eficaz. A mensagem, de carácter ecológico,
transmitida com uma linguagem bela, quase poética, é capaz de cativar pequenos
e não tão pequenos.
O imperador da Terra, presume-se que a nossa, quer que lhe
descubram algo que ainda não foi descoberto. Perante a impossibilidade de o
fazer neste planeta, envia um explorador galáctico que, depois de muita porfia,
encontra um pequeno planeta habitado, Gnu, nos confins da galáxia, habitado por
pequenos seres, os gnomos de Gnu.
Aterra a sua nave e, perante os habitantes, reclama a descoberta
e exige a aceitação da soberania do seu Imperador. Os gnomos respondem-lhe que
julgavam ter sido eles a descobrir o descobridor, mas não fazem questão e estão
dispostos a aceitar a fantástica superioridade e avanço que este lhes anuncia e
propõe.
O explorador mostra-lhes o benefício que isso lhes trará e
assesta o seu megatelescópio megagaláctico sobre a Terra. Mostra-lhes os
avanços da ciência e da tecnologia.
Mas os gnomos vão espreitando e veem: cidades completamente
obnubiladas por fumo de fábricas; o mar poluído por descargas de petróleo,
lixo…; o campo pejado de lixo; o trânsito caótico de veículos; hospitais para
dar pulmões a quem fumou, curar infecções de quem se drogou…
Até que os gnomos não querem ver mais e propõem-lhe ir à
Terra para “nos” descobrir. Manteriam em bom estado os jardins, plantariam
árvores novas, cuidariam das velhas, limpavam os plásticos…, criariam filtros
para as chaminés, ensinar-nos-iam a passear a pé… e após alguns anos a Terra
seria tão bela como Gnu.
O explorador regressou com essa proposta para o Imperador,
mas logo toda a máquina política e burocrática se opôs, emperrando de tal modo
o processo que, até hoje, os gnomos de Gnu não obtiveram resposta à sua oferta.
Talvez um dia deixaremos vir os gnomos de Gnu à Terra.
Mas, mesmo que eles não venham, não poderíamos fazer nos
aquilo que eles se propunham fazer?
Numa biblioteca escolar dará, certamente, uma bela “Hora do
Conto”.
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