ABERTURA
Ao Daniel Filipe
Este é o tempo
De incendiar a palavra de quem
no combate sabe
inventar o amor
Este é o tempo
Dado como destino
àqueles donos de
nada
no mundo tornados rebeldes
de novo insurgidos
na vida
Perdoada a nossa antiga traição
entra-nos de súbito
em casa um
inesperado raio de sol
É como pela primeira
vez
ver finalmente alguém
à nossa estender a sua mão
Carlos Monteiro dos Santos, in Uma Parcela do Todo: Antologia Poética
(1958-1990), Campo das Letras, 2001 (p. 33)
Selecionei este poema, primeiro porque é dedicado a Daniel Filipe e, intertextualmente, se liga a poemas como “A invenção do amor”; segundo pelo seu apelo à ação «Este é o tempo», mas ação
em que o incêncio e combate do início se transformam no raio de sol e no
estender de mão do final; terceiro, porque, numa época de crise, que foi a
dele, o poema poderá iluminar a crise, que é a nossa, com esta belíssima imagem
de fraternidade e de esperança.
Sobre o autor, transcreve-se a nota da contracapa.
Carlos Monteiro dos Santos
«Nasceu em Sena (Beira), Moçambique, em
1934.
Foi publicitário, editor e técnico
editorial em diversas agências de publicidade portuguesas e no Instituto do
Livro e do Disco de Moçambique, em Maputo, do qual foi posteriormente delegado
em Portugal.
Poemas da sua autoria estão incluídos em
diversas antologias, designadamente: No
Reino de Caliban, Manuel Ferreira; Tendências
Dominantes da Poesia Portuguesa da Década de Cinquenta, J.B. Martinho, e Vinte Poetas de Moçambique, Maria José
Mendonça e Nélson Saúte.»
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