Notas de algumas leituras, sem pretensões de crítica literária.

Seleção de alguns poemas, com ou sem comentários.


quarta-feira, 18 de setembro de 2013

ABERTURA, de Carlos Monteiro dos Santos



ABERTURA

Ao Daniel Filipe

Este é o tempo

De incendiar a palavra de quem
no combate   sabe inventar o amor

Este é o tempo

Dado como destino
àqueles   donos de nada
no mundo tornados rebeldes
de novo   insurgidos na vida

Perdoada a nossa antiga traição
entra-nos   de súbito
em casa   um inesperado raio de sol

É como   pela primeira vez
ver   finalmente   alguém
à nossa estender a sua mão


Carlos Monteiro dos Santos, in Uma Parcela do Todo: Antologia Poética (1958-1990), Campo das Letras, 2001 (p. 33)

Selecionei este poema, primeiro porque é dedicado a Daniel Filipe e, intertextualmente, se liga a poemas como “A invenção do amor”; segundo pelo seu apelo à ação «Este é o tempo», mas ação em que o incêncio e combate do início se transformam no raio de sol e no estender de mão do final; terceiro, porque, numa época de crise, que foi a dele, o poema poderá iluminar a crise, que é a nossa, com esta belíssima imagem de fraternidade e de esperança.

Sobre o autor, transcreve-se a nota da contracapa.

Carlos Monteiro dos Santos

«Nasceu em Sena (Beira), Moçambique, em 1934.
Foi publicitário, editor e técnico editorial em diversas agências de publicidade portuguesas e no Instituto do Livro e do Disco de Moçambique, em Maputo, do qual foi posteriormente delegado em Portugal.
Poemas da sua autoria estão incluídos em diversas antologias, designadamente: No Reino de Caliban, Manuel Ferreira; Tendências Dominantes da Poesia Portuguesa da Década de Cinquenta, J.B. Martinho, e Vinte Poetas de Moçambique, Maria José Mendonça e Nélson Saúte.»

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