O Pedro Penilo e a Cooperativa Teatro dos Castelos dinamizaram há uns anos um blogue denominado "O Logro das Rosas, Pão Ensebado". Como na altura escrevi uma pequena participação, transcrevo primeiro o texto do Pedro e depois o meu.
O “Milagre das Rosas” faz parte do meu arquivo de memórias tristes nos tempos da escola primária, das narrativas pseudo-históricas de J. H. Saraiva e do fascismo português.
O convite para participar na série de intervenções de arte urbana “Circuito das Fachadas – Outra Margem”, promovida no âmbito das Festas da Cidade de Coimbra, obrigou-me a tomar consciência de antiga suspeita, latente e difusa, guardada dos tempos de infância: a lenda – como todas as lendas, instrumento de formatação ideológica – esta lenda era, até para uma criança, profundamente amoral e inquietantemente actual no espelhamento dos vícios e perversões estruturantes da classe dirigente e elites do nosso país, ao longo da sua história.
“Outra Margem” tornou-se então para mim a outra versão, valores mais dignificantes, outros projectos para um povo celebrar. Coimbra, uma das mais antigas cidades da Península Ibérica, e a sua Universidade, das primeiras na Europa, merece ser representada por outras narrativas, símbolos e um imaginário de sabedoria, coragem e responsabilidade.
"ZUGSWANG", de Vítor Silva
Ante a pávida corte, o rei trovador faz a sua muda: xeque à rainha branca.
– «Senhor fremosa e do muj loução / coraçon», que levais nessa abada?
(Os cortesãos suspendem a respiração.)
– São rosas, Senhor, são rosas!
– Cavaleiros, bispos e castelões teimam que é pão para peões.
Abre-se o regaço. (O cortês público ovaciona eufórico, clama milagre.) Perde o poeta o pé. Ai! Pica-se nos espinhos do ludíbrio da razão, do logro da coerência.
Fora outro o conteúdo do avental, baniria Denis (gr. Diónysus) a santa e real consorte?
Xeque-mate!
Notas de algumas leituras, sem pretensões de crítica literária. Seleção de alguns poemas, com ou sem comentários.
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