DIÁLOGOS POÉTICOS
A PROCISSÃO
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PROCISSÃO
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Nas ruas da nossa aldeia
Vai passando a procissão:
Tamborileiros à frente,
E logo atrás o pendão.
Mordomos da confraria
Levam os anjos p´la mão;
Muito grave, o juiz da festa
Dá ordens ao sacristão. *
Há colchas pelas varandas,
Alfazema pelo chão.
Lá vêm agora os andores,
Ricos andores que são!
O pálio é todo de seda;
Mete latim e sermão.
Parabéns, senhor Vigário,
A Festa faz um vistão. *
Adolfo Portela (1866-1923)
(*) Marcha musicada por Tomaz Borba
(in “Toádas da Nossa Terra”, Lisboa, 1908 (p.
25)):
Procissão assim
Tão linda não há!
A música atrás.
Trá-lá-rá –
Tachim! Tachim!
E há foguetes pelo ar,
Às dezenas, a estalar;
Zás-pás-trás!
Zás-pás-trás!
Zás-pás-trás!
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Tocam os sinos da torre da igreja,
Há rosmaninho e alecrim pelo chão.
Na nossa aldeia que Deus a proteja!
Vai passando a procissão.
Mesmo na frente, marchando a
compasso,
De fardas novas, vem o solidó.
Quando o regente lhe acena com o
braço,
Logo o trombone faz popó, popó.
Olha os bombeiros, tão bem
alinhados!
Que se houver fogo vai tudo num
fole.
Trazem ao ombro brilhantes machados,
E os capacetes rebrilham ao sol.
Tocam os sinos na torre da igreja,
Há rosmaninho e alecrim pelo chão.
Na nossa aldeia que Deus a proteja!
Vai passando a procissão.
Olha os irmãos da nossa confraria!
Muito solenes nas opas vermelhas!
Ninguém supôs que nesta aldeia
havia
Tantos bigodes e tais sobrancelhas!
Ai, que bonitos que vão os
anjinhos!
Com que cuidado os vestiram em casa!
Um deles leva a coroa de espinhos.
E o mais pequeno perdeu uma asa!
Tocam os sinos na torre da igreja,
Há rosmaninho e alecrim pelo chão.
Na nossa aldeia que Deus a proteja!
Vai passando a procissão.
Pelas janelas, as mães e as filhas,
As colchas ricas, formando troféu.
E os lindos rostos, por trás das
mantilhas,
Parecem anjos que vieram do Céu!
Com o calor, o Prior aflito.
E o povo ajoelha ao passar o andor.
Não há na aldeia nada mais bonito
Que estes passeios de Nosso Senhor!
Tocam os sinos na torre da igreja,
Há rosmaninho e alecrim pelo chão.
Na nossa aldeia que Deus a proteja!
Já passou a procissão.
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Camões, como era usual no seu tempo, utilizou a estética da
imitação para superar.
Aqui também parece ter acontecido o mesmo. António Lopes Ribeiro (neste poema valorizado(?) por João Villaret) teria, presumo, conhecimento do poema de Adolfo Portela, mas
escreveu uma composição com outro fôlego.
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