Este é o primeiro livro do autor e foi muito bem aceite. Retrata a resistência à dominação germânica e é por alguns integrado no Neorrealismo italiano.
O romance passa-se durante o período em que Benito Mussolini
governa Itália (1922-1943) e foi publicado pela 1.ª. vez em 1947, tendo o regime fascista acabado em Itália em 1945.
Pin com a sua «voz rouca de menino velho» confronta todos
com quem se cruza, expondo os seus defeitos e vícios, apesar de muitas vezes
ser de seguida espancado. Órfão de mãe, abandonado pelo pai, ajudante de
sapateiro é um grande observador e conhece todos os podres da viela que habita.
Dá-se com os grandes, mas gostava de ser como os outros rapazes, que o
desprezam precisamente por se dar com os mais velhos e por ser enfezado. Na
taberna canta canções ordinárias que lhe foram ensinadas pelos adultos, que,
quando se fartam de o ouvir, lhe batem. Faz tudo isto «para dissipar a
solidão».
Um dia, após roubar uma pistola a um marinheiro alemão,
acaba por ir parar a um grupo de resistentes, que o tratam razoavelmente, mas
que ele provoca como provocava os homens que frequentavam a taberna do seu
beco.
Este destacamento, que adopta Pin, é muito especial, pois é
formado por elementos desgarrados e pouco conhecedores da razão pela qual
lutam.
Só o comissário Kim percebe, uma vez que o facto de estarem
juntos é da sua responsabilidade. Aliás este comissário é uma espécie de
psicólogo que vai estudando os homens e que para isso cria as situações para
analisar os comportamentos dos resistentes. Este comissário pode até reflectir
a passagem de Italo Calvino pela resistência, onde como partigiano terá tido oportunidade de analisar comportamentos e
motivações.
Em resumo: Pin é uma criança perdida, tão depressa adoptada
como abandonada, num mundo de adultos; pode ser mesmo, em alguns momentos,
metáfora da própria Itália que não sabe bem se será melhor colaborar com os
alemães – nota-se a sedução exercida pelas fardas e são apresentadas
personagens que ora lutam por um lado ora pelo outro – ou combatê-los.
Nota: É uma obra muito diferente de Palomar, embora já se possa vislumbrar uma grande capacidade de problematizar o mundo e deixar no ar muitas interrogações.
Nota: É uma obra muito diferente de Palomar, embora já se possa vislumbrar uma grande capacidade de problematizar o mundo e deixar no ar muitas interrogações.
CALVINO, Italo. O atalho dos ninhos de aranha. Portugália
Editora (Coleção: O livro de Bolso. N.º 3).
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