É-me difícil elogiar este livro, ainda que lhe econheça valor.
Primeiro, vamos à sinopse e à nótula biográfica incluídas
nas badanas:
«O narrador viu pela primeira vez aquele homem. em 1971, ou
1972, quando Allende era ainda presidente do Chile. Então, fazia-se chamar
Ruiz-Tagle e deslizava com a distância e a cautela de um gato pelos ateliers
literários da Universidade de Concepción. Escrevia poemas também distantes e
cautelosos, seduzia as mulheres, despertava nos homens uma indefinível
desconfiança. Voltou a vê-lo depois do Golpe, época em que até os poetas jovens
de dezoito anos, como ele, se viram de repente, mergulhados numa repentina e
sangrenta maturidade. Mas nessa ocasião, o narrador - que conta a história
desde o limite entre o fascínio e a necessidade de saber, ou de fazer saber -,
ainda ignorava que aquele aviador, Wieder, militar de carreira que escrevia com
fumo versículos da Bíblia com um avião da Segunda Guerra Mundial, e Ruiz-Tagle,
o péssimo aprendiz de poeta, eram uma e a mesma pessoa. Versículos que os
prisioneiros nos estádios liam, e que já não leriam as irmãs Garmendia, duas
das poetas que ele tinha seduzido e feito desaparecer.
E assim, num percurso pelas muitas bifurcações dos caminhos
da história, das mitologias e das literaturas da nossa época, é-nos contada a
fábula nada exemplar de um impostor (mas não somos todos impostores, nalgum
momento das nossas vidas?), de um homem de muitos nomes, sem outra moral a não
ser a estética (mas não é esta a aspiração de qualquer artista?), dandy do horror, assassino e fotógrafo
do medo, artista bárbaro que levava as suas criações até às últimas e letais
consequências.»
«Roberto Bolaño
(1953-2003), nascido no Chile, narrador e poeta, impôs-se
como um dos escritores latino-americanos do nosso tempo.
Publicou, entre outros, os ensaios recolhidos em Entre
Paréntises, os livros de contos Llamadas telefónicas (Prémio
Municipal de Santiago do Chile), Putas asesinas e El
gaucho insufrible, e os romances Estrella distante, Amberes,
Los
detectives selvajes (Prémio Herralde de Novela e Prémio Rómulo
Gallegos, ambos por unanimidade) e o monumental 2666.»
Agora, resta-me dizer que o livro está pejado de referências
culturais, principalmente a autores e livros chilenos que, devido à minha
ignorância, se tornam ininteligíveis.
Acabo citando uma frase da p. 150.:
«Lia mas as palavras passavam como escaravelhos
incompreensíveis, atarefados num mundo enigmático.»
BOLAÑO, Roberto. Estrela distante. Teorema, 2009