Mais uma vez, tal como no romance A demanda de D. Fuas Bragatela, o autor elege como protagonista da
sua história um homem humilde, empurrado pelo destino para a delinquência e a
malandragem, muito na tradição do pícaro.
Aqui a personagem principal, Vicente Maria, na tentativa de
se libertar das peias que o forçam ao roubo e a outros estratagemas de
sobrevivência, bate a todas as portas, procurando uma oportunidade de viver
dentro do enquadramento legal, para endireitar a sua vida. Porém, pela
influência de um homem poderoso, despeitado e invejoso do seu sucesso amoroso,
todas as vias se lhe fecham.
Sem saída para este problema, conluia-se com um grupo de
assaltantes para roubarem uns fidalgos. Por sorte ou azar roubam uma outra
carruagem que transporta ouro do rei D. Miguel, romanescamente destinado a
fazer pender a guerra que mantém com seu irmão D. Pedro a seu favor. Isto era
demais para estes pequenos delinquentes. Os soldados, com marcas de crueldade,
seguem as pistas e depressa localizam os responsáveis e matam todos menos
Vicente Maria, que vem a ser preso posteriormente. Graças à sua esperteza é
levado à presença do rei e convence-o a dar-lhe a liberdade em troca da
localização do ouro.
Recuperado o ouro, Vicente Maria é solto e é-lhe dado um
prazo breve para sair do país.
Virá a consegui-lo com a ajuda de um amigo, não sem antes
ter de enfrentar em grande desvantagem o seu poderoso inimigo que acaba por ser
morto pela amada de Vicente, violada pelo mesmo na juventude.
Neste universo romanesco, pejado de uma linguagem arcaizante,
somos levados a pensar que este homem insignificante poderá ter mudado a
História de Portugal.
MOREIRAS, Paulo. O ouro dos corcundas. Casa das Letras, 2011.