Histórias de gente que predominantemente é conhecida por
alcunhas e que mais do que bandidos, salvo raras exceções, são pessoas
empurradas para o crime pela sua própria condição social ou até pelo acaso,
v.g., no consumo de drogas.
Perpassa por todo o livro uma visão negativa do que a prisão
faz aos seus pensionistas. Há muito que se quer que as prisões sejam lugares de
recuperação para a sociedade dos detidos, mas o que acontece com frequência é
que aqueles que por lá passam, quando saem voltam a fazer o mesmo, funcionando
aquela como uma escola de refinamento de vícios e de crimes.
Um dos presos, principal narrador, reflete sobre o que leva
alguém ao crime e sobre modo como a sociedade encara aqueles que por ele
enveredam:
«Não sei onde está a origem do verdadeiro mal. Mas o que se passa nas
cadeias está mesmo mal.
Eu só conheço esta e a de Monsanto, mas a ideia que tenho é que nos
metem aqui por castigo e, sobretudo, por vergonha. Escondem-nos dos olhos do
mundo por vergonha. Assim como se fôssemos leprosos. Mas não é por nos
esconderem que a lepra acaba.» (p. 129)
Também é aflorada a vertente do sofrimento dos familiares
dos presos, principalmente mães e esposas.
É interessante e rápido ler este pequeno livro de Moita
Flores para perceber melhor esta a relação entre polícias e os protagonistas de
diversos crimes, principalmente assassínios e furtos / roubos, assim como dos
consumidores de drogas.
A nível linguístico temos acesso a um grande conjunto de
alcunhas, que facilmente se percebe a sua motivação. Os principais alvos destas
alcunhas são defeitos físicos, actividade criminosa, proveniência geográfica ou
familiar, preferências musicais, assim como sexuais.
Alguns exemplos: Zé Bexigoso, Chico Podre; Rodas Baixas
(carteirista); Francês, Açoriano; Quico Milongas, Garganta Funda.
FLORES, Francisco Moita. Bastardos. Difel, 1989.
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