História de uma mulher com grande desejo de afirmação e
que, com uma estratégia de paciência e sacrifício, pretende chegar ao lugar
mais alto possível na hierarquia, primeiro docente, depois do estado.
É uma narrativa de primeira pessoa em que esta mulher
conta, quando lhe vem à mente toda a sua história, de criança feliz a órfã,
primeiro da mãe, vítima do próprio pai que à mata assim como ao amante desta,
depois do próprio pai. É, então, desenraizada do Algarve para Lisboa para casa
de uns tios que ela denomina de tio-pai e tia-mãe. Posteriormente é entregue a
um orfanato, onde começa a sua educação e, pela sua persistência e apagamento,
consegue começar uma carreira docente que a vai levar até à docência
universitária. É uma espécie de longo monólogo em que ela avalia todo o seu
percurso e como que decide se deve ou não aceitar um convite que lhe foi feito
para ser Ministra da Educação e também a forma como agirá uma vez nesse cargo..
A história desta mulher é ironicamente uma crítica terrível
ao nosso sistema educativo, nomeadamente aos professores, mas também ao
carreirismo quer na docência quer na política.
A titulo de exemplo:
«…os alunos deviam
aprender apenas o sumo dos sumos, nada mais, o mínimo que se exige para o início
de uma profissão, nada mais […] o ideal seria preparar desde já, através de um
conjunto restrito de leis, um novo grupo de professores exclusivamente
técnicos, […] sem pretensões académicas, todos os anos devendo dar provas de
que os seus alunos, […] estando longe de ter adquirido alguma sabedoria, pelo
menos não reprovam, …» (p.42-43)
A candidata a ministra, no seu delírio, já se vê no cargo
de “Presidenta da República” e começa a traçar o seu plano, mostrando
claramente como encara os seus semelhantes: «…saiba
eu conquistar o povo estúpido para o meu lado, manipular números com argúcia já
sei, terei agora de aprender a manipular multidões […] mudo o ensino, mudo
Portugal, esvazio-o de pretensões e vaidades, anulo as elites, faço criar novas
a partir dos pequenos empresários […] que nem o ensino básico completo têm […],
finalmente Portugal se harmonizará consigo próprio, um povo pobre, inculto,
aparvalhado…»(p.130)
Depois de ler o livro, ocorrem-me esta quadra de António
Aleixo:
Há tantos burros mandando
Em homens de inteligência,
Que às vezes fico pensando,
Se a burrice não será uma
ciência.
REAL, Miguel. A Ministra. Quidnovi, 2009.