Notas de algumas leituras, sem pretensões de crítica literária.

Seleção de alguns poemas, com ou sem comentários.


terça-feira, 25 de novembro de 2014

O HORIZONTE, Patrick Modiano



Breve biografia :
Patrick Modiano nasceu em 1945. Publicou em 1968 o seu primeiro romance. Em 1972 recebeu o Grande Prémio da Academia Francesa, em 1978 o prémio Goncourt, em 1996 o Grande Prémio Nacional das Letras pela sua obra. Este ano de 2014 é prémio Nobel da Literatura. Escreveu cerca de 30 romances.
De acordo com a revista Lire, n.º 430 de novembro de 2014, a atmosfera que Modiano recria em quase todos os seus romances é a da época da Guerra da Argélia, de grupúsculos de esquerda radical, no coração de um Paris povoado de velhos colaboradores fatigados e de jovens já nostálgicos.

Resumo:
A personagem principal é Jean Bosmans. Um dia, através de uma anotação num caderno em que registava o seu dia a dia, numa letra quase indecifrável, encontra o nome de um tal Mérové. A partir daí vai-se lembrando do seu encontro e da relação que depois surge com Margaret Le Coz, uma jovem fugitiva, não se sabe bem de quê, que como ele tem a sensação de ser perseguida: ela por um certo Boyaval; ele pela sua mãe e o amante desta.
Com o desenvolvimento da ação vamos conhecendo a vida de Margaret: nascida em Berlim, vem para França onde conhece o tal Boyaval, para fugir deste vai para a Suíça e em Lausanne arranja um emprego como governanta de Bagherian do qual se torna amante e que a ajuda a fugir, quando Boyaval reaparece.
Depois de recordar toda a história que o ligou a Margaret, quarenta anos depois Bosmans decide procurar as personagens dessa sua relação. Procura Boyaval na internet e acaba por encontrá-lo dirigindo uma agência imobiliária. Naturalmente não se dá a conhecer, mas fica com a certeza de que é o homem que ensombrara a vida de Margaret através de um comportamento obsessivo que ela lhe descrevera: o jogo de espetar velozmente uma faca entre os dedos da mão sem se ferir.
Encontra também Yvonne Gaucher mulher de um tal dr. André Poutrel, ocultista, que vem a ser preso quando Margaret trabalhava para eles. Nesse momento, esta decide fugir uma vez mais, pois terá que prestar declarações e a sua situação não é legal ou é de duvidosa legalidade. Nunca mais dá notícias suas a Bosmans.
De novo, através da internet localiza alguém com este nome em Berlim e parte à sua procura. Entra num café perto da morada que obtivera na net e troca impressões com um cliente que a conhece e lhe diz quem ela dirige uma livraria.
A história acaba aqui, quando ele aparentemente se dirige à tal livraria.
Fica, naturalmente, a interrogação: Porquê só quarenta anos depois?

Uma das características mais interessantes deste livro é o modo como o tempo nos é servido, numa mistura sábia e eficaz.
Os principais temas tratados são a procura da identidade, sobretudo de Bosmans, narrador da sua própria história, através da procura de significação para todos os pequenos acontecimentos relacionados com a sua relação com Margaret; e a ausência das pessoas conhecidas, ou seja, como é que as pessoas desaparecidas sobrevivem na nossa memória.
Certamente, este livro lembra o À procura do tempo perdido de Marcel Proust.