Estamos perante um primeiro livro de uma autora ainda jovem
e que me faz desejar ler um segundo, pois este é extraordinário.
Este livro é a biografia ficcionada de uma família,
alegadamente baseada na família da autora. Há breves referências à implantação
da República e também ao 25 de Abril em função das personagens cujas vidas se
contam.
A história é contada por cinco vozes diferentes cujas
referências se sobrepõem e se complementam. A restante narração surge pela voz
daquele que é personagem principal, sob a forma de um diário fragmentado,
supostamente descoberto por uma familiar.
O epílogo, ou melhor os dois epílogos são quase
redundantes, pois o próprio Mariano Serrão caracteriza no seu diário quem será
capaz de contar a sua história.
No sentido da promoção da leitura, a declaração do júri,
que lhe atribuiu o prémio LeYa em 2013[1], é uma
garantia de qualidade:
«O júri destaca a
consistência do projecto narrativo que procura, através de várias gerações, e
com o foco em personagens de grande força, sobretudo femininas, retratar a
transformação da sociedade e dos modelos de vida numa cidade de província, no
Alentejo. Merece destaque a originalidade com que a autora combina o individual
e o colectivo, bem como a inclusão da perspectiva do(s) narrador(es) no desenho
cuidado de um universo de vastas implicações mas circunscrito à esfera do mundo
familiar ao longo de um século de História. Também a exploração ficcional de
registo diarístico e a inclusão da fotografia dão um sinal de modernidade
formal a esta obra.»
TRINDADE, Gabriela Ruivo. Uma Outra Voz. Leya, 2014
[1]
Manuel Alegre (Presidente(, José Carlos Seabra Pereira, José Castello, Lourenço
do Rosário, Nuno Júdice, Pepetela e Rita Chaves.