Notas de algumas leituras, sem pretensões de crítica literária.

Seleção de alguns poemas, com ou sem comentários.


terça-feira, 12 de agosto de 2014

DÁDIVA DIVINA, de Rui Zink



A narração, à semelhança de outros livros seus, confunde-se entre o eu que conta dentro da acção (intradiegético) e um outro eu fora da acção (extradiegético). Sempre numa linguagem coloquial, mordaz, e prolixa em comentários sobre as atitudes das personagens ou mesmo sobre qualquer outro assunto que, por associação de ideias, surja. Esta atitude é mesmo assumida pois, numa fase em que dialoga com o papel em que escreve, diz: «Sim, papel, estico-me em demasia e perco o fio à meada.» (p. 173)
Este romance é tão, se não mais, iconoclasta, sacrílego que O Evangelho segundo Jesus Cristo de José Saramago. Não se terão ouvido muitas críticas pois não estamos perante um candidato ao Nobel. Não há dúvida, porém, que os católicos praticantes se sentirão ofendidos na sua fé.
Basicamente um detective, aparentemente não muito inteligente, que cita um hipotético manual da profissão em versículos, é encarregado de encontrar um homem que não é mais nem menos do que Jesus Cristo. Esta busca justifica-se com base na ocorrência da ressurreição. O livro começa por mostrar a ausência do corpo de Jesus do túmulo onde fora colocado, ainda que esse pequeno fragmento narrativo não respeite totalmente a narrativa bíblica. Uma vez que não foi encontrado e é imortal há de andar por aí. É só preciso encontrá-lo…

Transcreve-se da contracapa:
«Sam Espinosa é um homem que não acredita em nada. Até ao dia em que morre e se enamora. A partir daí, não tem outro remédio senão passar a acreditar…
Em suma, ele ainda não sabe, mas vai encontrar Jesus.»

Sobre o autor (p. 4):
«Rui Zink nasceu em 16 de  Junho de 1961. Escritor e professor auxiliarna FCSH-UNL, a sua escrita estende-se pela ficção, o ensaio e o teatro. É autor de várias traduções e alguns dos seus livros foram traduzidos para alemão, hebraico, inglês e português. Da sua obra destacamos os romances Hotel Lusitano, Apocalipse Nau e O Suplente; os livros de contos A Realidade Agora a Cores e Homens-Aranhas e a novela A Espera. É ainda autor do romance Os Surfistas, o primeiro e-book português, e co-autor de Major Alverca e dos livros infantis O bebé que… não gostava de televisão, O bebé que… não sabia quem era e O bebé que… fez uma birra, editados pelas publicações Dom Quixote. É membro da direcção do movimento espiritual Felizes da Fé (www.felizes.com) e da Associação dos Cidadãos Auto-Mobilizados (www.aca-m.org).»

ZINK, Rui. Dádiva divina. Dom Quixote, 2.ª ed., 2004