Notas de algumas leituras, sem pretensões de crítica literária.

Seleção de alguns poemas, com ou sem comentários.


sexta-feira, 30 de julho de 2010

CARRELL, Jennifer Lee, O SEGREDO DE SHAKESPEARE, Círculo de Leitores, 2007


Desde cedo me surgiram perguntas:
Como é que a autora domina tão bem a obra de William Shakespeare?
Como é que consegue entrecruzar todas as histórias e enredos?
Será que conhece todos os lugares de que fala?
Dei-me ao trabalho de vasculhar a Rede e encontrei uma entrevista que responde basicamente a essas e outras perguntas. A autora é, desde muito cedo, uma estudiosa de Shakespeare, licenciada por Harvard e desde sempre coleccionadora de factos insólitos que a ele se referem.
Por outro lado, conseguiu fazer algo muito difícil, segundo as suas próprias palavras, vendeu o livro ainda como ideia, o que lhe permitiu utilizar fundos do editor para visitar os muitos lugares em que a intriga se desentola.
Nesta entrevista fica-se a saber, também, que abandonou a actividade lectiva e se dedica agora a tempo inteiro à escrita, pelo que podemos esperar outros bons livros dela.

O livro é uma espécie de caça ao tesouro e um thriller ao mesmo tempo. Numa velocidade alucinante, que de imediato lembra Dan Brown, a protagonista, Kate Stanley, anda de Inglaterra para os Estados Unidos e volta, passando por Espanha e de novo Estados Unidos, acabando o fecho dos pormenores a resolver já de novo em Inglaterra.
As personagens de maior relevo são Kate Stanley, ex-professora e investigadora de Shakespeare; Rosalind Howard, professora da primeira em Harvard, Ben Pearl, espécie de investigador privado; Matthew Morris, um outro professor especialista em Shakespeare e também aluno de Rosalind; Athenaide Preston, coleccionadora bilionária do dramaturgo e Sir Henry Lee, outrora estivador elevado a Cavaleiro do Reino devido à sua capacidade para interpretar o referido Poeta.
As personagens da história de Shakespeare, narração que acontece principalmente no prólogo e interlúdios que finalizam os quatro primeiros actos, pois o livro está dividido em cinco actos como as tragédias clássicas, vêm a ter reflexos na narração principal, chegando ao ponto de haver laços familiares envolvidos, e de ficarem mesmo insinuações não resolvidas que deixarão o leitor a pensar.

Poderá parecer, do que fica dito, que o livro apelará a gente votada À literatura. No entanto, quem gostou dos livros de Dan Brown, gostará deste; quem gosta de thrillers, também gostará deste. Acresce que está melhor escrito do que os do primeiro, e infinitamente melhor do que a maior parte dos segundos.
Finalmente, uma vez que não se pretende contar a história, é de referir que os grandes temas são os que frequentemente William Shakespeare tratou: inveja, ciúme, cobiça.

Para concluir e facilitar algum comentário que queiram tecer, registam-se algumas citações, que mostram a qualidade do texto e nomeadamente da descrição:

“…o teatro em volta do palco, que era uma grande plataforma numa das extremidades de uma arena octogonal a céu aberto. Em volta da arena ficavam as galerias, abertas para o lado de dentro como uma estreita casa de bonecas de três andares, cada andar estava cheio de filas de bancos de carvalho polido que se debruçavam sobre varandins que davam para a arena.” Pág. 35

“Levantei-me, afastando-me do abraço solidário de Sir Henrry.” Pág. 41
“A maior parte das histórias desvanecem-se quando acabam, mas as grandes histórias são diferentes. Ficam a pairar nas nossas mentes, a tecer os seus fios de ouro e de prata, até toda a teia da vida rebrilhar ao sol como seda ou opalas de fogo.” Pág. 158

“Há uma maré nos assuntos dos homens que, se a agarram em tempos de inundação, os leva à fortuna; se a deixam passar, toda a viagem das suas vidas é lançada contra escolhos e misérias…” (várias vezes repetida) pág. 218